A jornada de uma pessoa com câncer é um desafio que vai muito além do corpo, tocando profundamente o coração e a mente. Receber um diagnóstico oncológico, seja o seu ou de alguém que você ama, exige não apenas tratamentos médicos de ponta, mas também um suporte psicológico forte e humano. É um momento de …
A jornada de uma pessoa com câncer é um desafio que vai muito além do corpo, tocando profundamente o coração e a mente. Receber um diagnóstico oncológico, seja o seu ou de alguém que você ama, exige não apenas tratamentos médicos de ponta, mas também um suporte psicológico forte e humano. É um momento de grandes mudanças e de buscar forças que, por vezes, parecem difíceis de encontrar.
Muitas vezes, sua vontade de ajudar é enorme, mas a falta de saber como agir ou o que dizer pode acabar gerando mais ansiedade e distanciamento. É por isso que decidi trazer este guia, para simplificar o entendimento sobre o apoio psicológico durante a fase do câncer e para que você possa saber como ajudar seu ente querido nesse momento.
Neste artigo, você vai encontrar:
- As emoções que você ou uma pessoa com câncer pode sentir.
- Um guia sobre como conversar e o que evitar.
- A explicação da “dor total” e seus impactos além do físico.
- Conselhos importantes para quem cuida.
- Opções de ajuda profissional e outros recursos.
- Maneiras de dar ânimo e força a quem você ama.
Sumário
ToggleAs fases emocionais de quem enfrenta o câncer: como a mente reage?
Quando alguém recebe um diagnóstico de câncer, a vida muda de repente. Não é só o corpo que sente o impacto; a mente também passa por um turbilhão de emoções. Essas emoções, por mais que pareçam vir em etapas, na verdade se misturam e aparecem de forma bem particular para cada um.
Conhecer essas fases ajuda muito você e a pessoa com câncer a entender o que está acontecendo, porque, acredite, cuidar da mente é tão importante quanto cuidar do corpo. Quando o sofrimento psicológico não é tratado, pode até atrapalhar o tratamento médico e diminuir as chances de recuperação.
A negação: um escudo inicial quando o diagnóstico chega
Logo no começo, depois de um diagnóstico de câncer, a negação funciona como uma espécie de proteção para a mente. Seu familiar ou amigo vai duvidar dos exames, querer uma “segunda opinião” torcendo por um erro ou, simplesmente, tentar seguir a vida como se nada tivesse acontecido. É como se a mente precisasse de um tempo para digerir uma notícia tão forte.
Neste momento, tenha paciência.
Não force a barra, a menos que essa negação esteja impedindo a pessoa de fazer o tratamento. Essa fase dá um respiro para a mente se organizar. Seu papel é estar presente e garantir que, mesmo que ela verbalmente negue, compareça às consultas.
Isso é importante porque, nesse estado, muitas vezes ela não consegue absorver as informações médicas. Sua presença física e apoio são muito valiosos.
Revolta e raiva: quando a dor se transforma em indignação
Depois que a negação começa a ceder, a dura realidade se impõe, e a angústia pode virar raiva. A pergunta “Por que eu?” se torna constante para uma pessoa com câncer. Essa raiva pode se voltar para a equipe médica (pela demora, pela dor), para a família (por estarem saudáveis) ou até para si mesma (por culpas passadas, como maus hábitos).
É crucial que você não leve essa raiva para o lado pessoal.
Lembre-se, ela não é direcionada a você, mas à situação. Acolher essa raiva significa reconhecer que a pessoa se sente injustiçada.
Permita que ela desabafe, que expresse essa fúria, sem julgamentos. Evite frases como “Você não deveria falar assim”, pois elas fecham o caminho para a comunicação e podem afastar você do seu ente querido num momento que ela mais precisa.
A barganha: a tentativa de controlar o que parece incontrolável
Nesta fase, a pessoa com câncer pode tentar negociar com a vida, com Deus, com o destino. Podem surgir promessas religiosas, mudanças radicais na alimentação ou hábitos, ou até rituais supersticiosos. Tudo isso é uma tentativa de adiar o que parece inevitável ou de aliviar o sofrimento. É uma busca por algum tipo de controle quando tudo parece desgovernado.
Sua ajuda aqui é respeitar essas crenças e rituais, desde que eles não substituam o tratamento médico. Essa “barganha”, muitas vezes, oferece uma sensação temporária de controle em meio ao caos da doença, e isso pode trazer um alívio importante para a mente.
Depressão: a tristeza profunda e o pedido de ajuda
É importante entender a diferença entre uma tristeza normal e a depressão clínica. A depressão reativa aparece pelas perdas que já aconteceram, como a queda do cabelo, a perda de um seio, ou a impossibilidade de trabalhar.
Já a depressão preparatória antecipa perdas futuras e a própria finitude. Este é um momento de silêncio, de introspecção profunda e, muitas vezes, de uma tristeza avassaladora para uma pessoa com câncer.
Tentar “animar” com alegria forçada é inútil e pode até ofender.
A ajuda mais eficaz consiste em presença silenciosa e contato físico, como segurar a mão.
A depressão atinge cerca de 33,16% das pessoas que passaram pelo câncer, e esse número pode subir para 43,25% em épocas de muito isolamento, como foi a pandemia. Se você notar que a pessoa com câncer não sente mais prazer em nada, ou que está completamente desesperançosa, a ajuda de um psiquiatra é urgente, pois o risco de pensamentos suicidas e de abandono do tratamento aumenta muito.
A aceitação: quando a luta se transforma em um novo jeito de viver
A aceitação não significa que a pessoa está feliz ou que simplesmente se conformou. É, na verdade, um estado de compreensão da sua nova realidade, onde a luta pode dar lugar a um jeito mais estratégico de enfrentar a doença.
A pessoa com câncer pode começar a fazer planos de curto prazo e reorganizar seus valores, encontrando um novo sentido para a vida.
Este é o momento ideal para incentivá-la a retomar pequenos prazeres e a participar de grupos de apoio. A troca de experiências mostra que ela não está sozinha e ajuda a encontrar novas formas de se adaptar, fortalecendo a esperança.
Comunicação empática: o que dizer e o que evitar para apoiar uma pessoa com câncer?
Conversar com alguém que tem câncer pode ser um desafio. A comunicação é a ferramenta mais poderosa que temos quando queremos dar suporte, mas também é onde mais cometemos erros. Com a melhor das intenções, acabamos usando frases prontas que, em vez de ajudar, geram mais distanciamento e até culpa.
O perigo da positividade tóxica e os impactos negativos para a pessoa com câncer
Nossa cultura, muitas vezes, nos pressiona a estar sempre “pra cima”, felizes, e sentir tristeza pode ser visto como fraqueza.
Só que no contexto do câncer isso vira positividade tóxica. Frases como “Você tem que ser forte”, “Pense positivo que a cura vem” ou “Não chore” apenas invalidam o que a pessoa doente realmente está sentindo.
Quando alguém ouve “seja forte”, pode interpretar como: “não tenho permissão para fraquejar ou sentir medo”. Isso gera uma solidão imensa e faz com que ela precise usar uma “máscara de bravura” para não “decepcionar” a família, aumentando muito o seu cansaço mental.
O que dizer para ajudar uma pessoa com câncer?
- Quando você pensa em minimizar a situação:
- Evite dizer: “Vai dar tudo certo.”, “Isso é só uma fase.”, “Cabelo cresce de volta.”
- Por quê? Ninguém pode garantir o futuro. Minimizar a perda estética ou o medo da morte faz você ou a pessoa com câncer se sentir incompreendido, como se a dor dela não fosse real ou importante.
- Em vez disso, diga: “Eu imagino que isso seja muito difícil.”, “Estou aqui com você, independentemente do que acontecer.”, “Você é lindo(a) de qualquer jeito, mas entendo sua dor.” Isso mostra que você vê e valida o sofrimento dela.
- Quando você usa frases de comando:
- Evite dizer: “Você precisa lutar.”, “Não desista.”, “Seja guerreiro.”
- Por quê? Essas frases transformam a doença em uma “guerra”. Se a pessoa com câncer não melhorar, pode sentir que “perdeu” ou “não lutou o suficiente”, o que gera uma culpa enorme e desnecessária.
- Em vez disso, diga: “Respeite seu tempo e seu corpo.”, “Tudo bem descansar, eu assumo algumas coisas por enquanto.”, “Admiro a sua forma de lidar com tudo isso.” Isso dá permissão para ela sentir e descansar.
- Quando você faz comparações:
- Evite dizer: “Fulano teve isso e curou com chá.”, “Pelo menos não é o câncer X.”
- Por quê? Cada organismo é único. Comparar histórias pode gerar falsas esperanças ou medos desnecessários. Além disso, a expressão “pelo menos” desqualifica a dor que ela está sentindo agora.
- Em vez disso, diga: “Cada caso é um caso, vamos focar no que seu médico diz.” Mantenha o foco na realidade da pessoa com câncer.
- Quando você tenta achar um culpado:
- Evite dizer: “Isso foi aquele estresse/mágoa.”, “Você fumou muito.”
- Por quê? Atribuir culpa não muda o diagnóstico e só aumenta a sua tristeza. A ciência não comprova que a mágoa seja uma causa direta de câncer.
- Em vez disso, diga: “Você não tem culpa de estar doente.” Reforce que ela não é responsável pela doença, em um momento de fragilidade.
- Quando você impõe a sua fé:
- Evite dizer: “Foi vontade de Deus.”, “Deus só dá a cruz a quem aguenta.”
- Por quê? Isso pode gerar revolta espiritual. Nem todas as pessoas encontram conforto na ideia de que seu sofrimento é um desígnio divino.
- Em vez disso, diga: “Estou rezando/torcendo por você.” (Se a pessoa com câncer for religiosa), “Como você está se sentindo hoje?”, “Vamos focar no agora e no tratamento.”, “Sua fé é admirável.” Mostre seu apoio, sem impor suas próprias crenças.
O que fazer quando as palavras faltam e a pessoa com câncer precisa desabafar
Muitas vezes, a melhor ajuda é simplesmente ficar em silêncio. A escuta ativa significa estar ali de corpo e alma, com toda a sua atenção, sem a pressa de responder ou de “resolver” o problema.
Experimente perguntar: “Você quer conversar sobre isso ou prefere que eu apenas fique aqui ao seu lado?”. Isso dá à pessoa com câncer o controle sobre o que ela precisa naquele momento.
Permitir que ela fale sobre a morte, o medo e a dor tira o peso de esses temas serem proibidos, proporcionando um alívio imenso que nenhuma frase motivacional conseguiria dar.

Além da dor física: entendendo a “dor total” para um suporte holístico à pessoa com câncer
É comum pensar que a dor do câncer é só física, mas ela vai muito além. Para ajudar a pessoa de forma completa, é preciso entender que o sofrimento é uma mistura de muitas coisas.
O conceito de “dor total”, criado por Cicely Saunders, uma médica pioneira nos cuidados paliativos, explica por que os remédios para dor nem sempre aliviam todo o sofrimento de uma pessoa com câncer.
As quatro dimensões da dor total e seus impactos
A dor total se compõe de quatro partes interligadas, e todas elas precisam ser cuidadas para um suporte completo:
- Dor física: É a dor causada pelo tumor, pela invasão óssea, pelas cirurgias e pelos efeitos dos tratamentos, como as dores nos nervos (neuropatias) causadas pela quimioterapia.
- Dor psicológica: Inclui a ansiedade, a depressão, a tristeza pela mudança na autoimagem e o medo de ficar dependente. A ansiedade afeta cerca de 30,55% das pessoas com câncer. É a dor da mente e do coração.
- Dor social: Abrange a perda do papel na sociedade (no trabalho, como chefe de família), o isolamento dos amigos, as preocupações com dinheiro (o que chamamos de toxicidade financeira) e a complicada burocracia do sistema de saúde. Pense, por exemplo, em um marido passando por um tratamento para câncer de próstata. Além da dor física dos efeitos colaterais, ele pode lidar com a dor psicológica da mudança na sua identidade, a dor social de não conseguir trabalhar como antes e a dor espiritual, com perguntas profundas sobre o futuro.
- Dor espiritual: Manifesta-se como a perda de sentido na vida, questionamentos sobre a finitude, a culpa e a necessidade de perdão. É uma busca interna por um propósito em meio ao sofrimento.
Fadiga oncológica: o que é e como afeta a pessoa com câncer?
Um sintoma muitas vezes ignorado, mas com grande impacto, é a fadiga relacionada ao câncer (CRF). Diferente do cansaço do dia a dia, ela não melhora com repouso e envolve o corpo, as emoções e a capacidade de pensar.
Ajudar quem passa por isso envolve validar essa fadiga (“Eu sei que você não é preguiçoso, é a doença que cansa”) e auxiliar no planejamento das atividades. Isso significa ajudar a pessoa a priorizar o que é essencial e a delegar o resto.
Saiba que a fadiga muito intensa é um sinal de alerta para depressão e está ligada a problemas de sono, que afetam cerca de 34,1% das pessoas em tratamento, criando um ciclo de desgaste que precisa ser quebrado.
Como animar uma pessoa com câncer?
Dar ânimo não significa fingir alegria ou mascarar a dor. O que realmente conforta e fortalece é um apoio que reconhece os sentimentos dela, que incentiva a sua capacidade de se recuperar e a reconexão com pequenos prazeres, sem nunca ignorar o bem-estar mental.
Na fase de aceitação, quando a pessoa com câncer começa a aceitar e reorganizar a sua vida, é o momento perfeito para incentivar a retomada de pequenos prazeres. Isso ajuda a encontrar um novo sentido e a fortalecer o espírito.
Sugira atividades que devolvam um senso de controle e normalidade, como hobbies adaptados (leitura, artesanato, ouvir música), assistir a um filme querido, ou planejar um encontro simples e agradável com amigos.
A autonomia e a possibilidade de tomar pequenas decisões, por mais insignificantes que pareçam, fortalecem o espírito e a capacidade de superação de uma pessoa com câncer, abrindo caminhos para o bem-estar.
O apoio invisível: cuidando de quem cuida da pessoa doente
Quando o câncer entra em uma família, ele afeta a todos. O impacto do diagnóstico atinge todos os membros, mudando rotinas e papéis. Quem assume o papel de cuidador principal, apesar de ser essencial, também é a pessoa mais vulnerável a sofrer em silêncio, e isso pode, sem querer, comprometer o apoio à pessoa com câncer.
O esgotamento do cuidador: síndrome de burnout e fadiga por compaixão
Cuidadores familiares frequentemente desenvolvem a Síndrome de Burnout (ou esgotamento profissional), que se manifesta como cansaço extremo. Você se torna mais distante e frio com o cuidado (despersonalização) e tem uma constante sensação de que nada do que faz é bom o suficiente.
A “fadiga por compaixão” é o preço de se importar demais sem tirar um tempo para si.
Cuidadores que não se cuidam têm um risco maior de ter problemas de saúde mental e física. E, ironicamente, essa sobrecarga pode acabar piorando a qualidade do apoio que dão à pessoa com câncer.
Como cuidar de si mesmo ao dar apoio a uma pessoa com câncer?
Ajudar quem tem câncer exige que o cuidador também esteja bem. As estratégias abaixo são essenciais para evitar o seu esgotamento e garantir que o suporte continue sendo bom para você ou para a pessoa cuidada:
- Dividir as tarefas: O cuidado não deve ser responsabilidade de uma pessoa só. Crie uma escala de revezamento com outros familiares e amigos para as tarefas práticas (levar às consultas, fazer compras) e as domésticas. Dividir o peso alivia a carga de todos.
- Cuidar da culpa: É muito comum que cuidadores sintam culpa – culpa por estarem cansados, por quererem um momento de lazer ou por terem saúde. O suporte psicológico para o cuidador é essencial para entender que se cuidar não é egoísmo, mas sim uma condição para conseguir cuidar bem e por mais tempo da pessoa com câncer.
- Não perder a sua identidade: O cuidador não deve se misturar completamente com a pessoa que está cuidando. Manter hobbies, o trabalho e a vida social, mesmo que adaptados, é muito importante para a sua saúde mental e para manter quem você é.
- Usar a tecnologia e a rede de apoio: Aplicativos e ferramentas de organização podem ajudar a coordenar a ajuda externa, para que o cuidador principal não precise gerenciar tudo sozinho. Peça e aceite ajuda!
Quando contar com a ajuda profissional para apoiar a pessoa com câncer?
Você pode fazer muito, mas há momentos em que a ajuda profissional é fundamental. Embora o apoio da família seja insubstituível, cuidar de problemas de saúde mental já existentes e buscar um bem-estar completo exige o conhecimento de especialistas e dos recursos disponíveis.
O papel da psico-oncologia e da terapia cognitivo-comportamental (TCC) no tratamento
A psico-oncologia é uma área da medicina que cuida da prevenção e do tratamento das consequências emocionais do câncer. A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) é a abordagem mais indicada para você ou para a pessoa que está passando pela doença. Suas técnicas ajudam de várias formas:
- Reestruturação cognitiva: Ajuda a identificar e a mudar aqueles pensamentos negativos, como “Eu vou morrer amanhã” ou “A dor nunca vai passar”, transformando-os em pensamentos mais realistas e úteis.
- Ativação comportamental: Combate a falta de energia que pode surgir com a tristeza e a depressão, incentivando pequenas atividades que dão prazer ou uma sensação de realização.
- Treino de relaxamento: Ensina técnicas como a respiração profunda e o relaxamento muscular para controlar a ansiedade, principalmente antes de exames ou procedimentos como a quimioterapia ou ressonâncias.
Grupos de apoio: conectando-se a experiências similares e compartilhando forças
Grupos terapêuticos e rodas de conversa oferecem algo único: a sensação de não estar sozinho. Perceber que outras pessoas sentem os mesmos medos e dores diminui o isolamento e faz você se sentir compreendido.
Instituições como a Abrale (Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia) têm grupos específicos para luto, cuidadores ou jovens pacientes, facilitando a troca de ideias e a criação de laços de apoio.
Práticas integrativas e complementares (PICS) no SUS: uma ajuda extra e reconhecida
O Sistema Único de Saúde (SUS) brasileiro, por meio da Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC), incluiu terapias que não usam remédios, mas que mostram ótimos resultados para controlar sintomas do câncer e melhorar o bem-estar.
Algumas dessas práticas que ajudam muito quem tem câncer são:
- Acupuntura: Ajuda a diminuir náuseas e vômitos causados pela quimioterapia, alivia dores nas articulações (artralgia) de certos tratamentos e combate o ressecamento da boca (xerostomia) provocado pela radioterapia.
- Yoga e meditação (mindfulness): Estudos comprovam que elas reduzem o cansaço do câncer, melhoram o sono e diminuem os níveis de cortisol (o hormônio do estresse).
- Reiki e terapia comunitária: Ajudam no relaxamento profundo e no fortalecimento de laços sociais, cuidando do lado espiritual e social da dor total.
Para ter acesso a essas terapias, procure a Unidade Básica de Saúde (UBS) mais próxima e peça informações sobre os grupos de PICS ou o encaminhamento para centros especializados, como os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) ou ambulatórios de dor.

Proteção legal: quais os direitos da pessoa com câncer?
As incertezas financeiras e a burocracia são grandes fontes de ansiedade para a pessoa com câncer, causando o que chamamos de toxicidade financeira.
Por isso, garantir os direitos é uma ação importante para a saúde mental. Conhecer e buscar esses direitos alivia a pressão econômica, permitindo que a energia do seu ente querido seja usada na recuperação, e não nas preocupações com dinheiro.
A lei brasileira oferece apoio:
- Lei dos 60 dias (Lei nº 12.732/2012): Garante que o tratamento no SUS comece em, no máximo, 60 dias após o diagnóstico. Saber dessa lei dá poder a você ou à pessoa com câncer e diminui a angústia da espera.
- Lei da navegação de pacientes (Lei nº 14.758/2023): Criou programas de apoio para guiar a pessoa através do sistema de saúde, facilitando o acesso. O “navegador”, um profissional treinado, funciona como um guia, diminuindo a confusão e o estresse da papelada para a pessoa com câncer e sua família.
Além disso, existem benefícios financeiros importantes:
- Saque de FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) e PIS/PASEP: Permitido quando a doença está ativa.
- Auxílio-doença e aposentadoria por invalidez: Não exige tempo mínimo de contribuição para quem é segurado do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).
- Isenção de imposto de renda: Sobre valores recebidos de aposentadoria e pensão.
- Aquisição de veículos: Isenção de impostos (como IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados), ICMS (Imposto sobre Operações relativas à Circulação de Mercadorias e sobre Prestações de Serviços de Transporte Interestadual, Intermunicipal e de Comunicação), IPVA (Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores)) para pessoas com sequelas que dificultam a movimentação.
Redes de apoio do terceiro setor: onde encontrar ajuda além do Estado
Em lugares onde as estruturas do governo podem ser limitadas, as Organizações Não Governamentais (ONGs) fazem um trabalho muito importante:
- Abrale (Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia): Oferece apoio psicológico gratuito, consultoria jurídica e até uma segunda opinião médica. Além disso, tem programas de nutrição e apoio para cuidadores.
- Instituto Peito Aberto: Focado em câncer de mama, disponibiliza advogados, fisioterapia e o projeto “Madrinha”, onde mulheres que já passaram pela doença acolhem novas diagnosticadas.
- FEMAMA (Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama): É uma rede que une ONGs de todo o Brasil, facilitando a busca por apoio na sua região.
- Instituto Oncoguia: Um site de referência para encontrar informações confiáveis (ajuda a combater as notícias falsas sobre saúde) e oferece um telefone 0800 para orientar sobre o sistema de saúde e os direitos.
O bem-estar na vida com câncer: o suporte que faz toda a diferença
Ajudar psicologicamente uma pessoa com câncer pode ser difícil, e não é algo que fazemos por instinto; é uma habilidade que podemos aprender.
Ela exige que deixemos de lado a ideia de que precisamos ser sempre positivos, que tenhamos a coragem de ouvir dores profundas sem tentar abafá-las, e que saibamos usar os recursos médicos, integrativos e legais disponíveis.
O apoio não busca apenas garantir a sobrevivência, mas melhorar a qualidade de vida durante o tratamento e promover o crescimento pós-traumático — que é quando a pessoa encontra novas forças e significados após uma experiência tão difícil.
Muitas pessoas, quando recebem o apoio certo, contam que a doença as fez rever valores e fortalecer laços. Para isso, a rede de apoio deve ser como um escudo contra as crises e um guia nos caminhos, garantindo que quem está doente nunca precise enfrentar a jornada sozinha.
O cuidado completo, portanto, une a ciência (com tratamentos avançados e psicoterapia), a humanidade (com comunicação sensível e presença) e a cidadania (com acesso a direitos), formando uma rede de proteção capaz de sustentar a vida em seus momentos mais delicados.
Se você ou alguém que você ama é uma pessoa com câncer e busca um apoio mais aprofundado para lidar com esses desafios emocionais, a ajuda profissional é um passo muito importante.
Atendo como psiquiatra em Curitiba, mas também faço atendimentos remotos, oferecendo suporte especializado e acessível, onde quer que você esteja. Agende uma consulta para um acompanhamento personalizado e vamos pensar em formas de superar esse momento.
Você não precisa enfrentar tudo sozinho.
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