Como ajudar uma pessoa com crise de ansiedade: o que fazer (e o que evitar) na hora

Ver alguém que você ama enfrentando uma crise de ansiedade pode ser uma experiência que gela o coração. É um momento de grande vulnerabilidade para a pessoa e, para quem assiste, a sensação de impotência é quase paralisante. E nesse turbilhão todo, querer saber como ajudar uma pessoa com crise de ansiedade é completamente natural. …

Ilustração que representa confusão mental durante uma crise, explicando como ajudar uma pessoa com crise de ansiedade

Ver alguém que você ama enfrentando uma crise de ansiedade pode ser uma experiência que gela o coração. É um momento de grande vulnerabilidade para a pessoa e, para quem assiste, a sensação de impotência é quase paralisante. E nesse turbilhão todo, querer saber como ajudar uma pessoa com crise de ansiedade é completamente natural.

Por isso, ter as informações certas e saber exatamente como agir pode transformar a experiência de desespero em um momento de apoio e segurança. 

Sumário

Como saber se uma pessoa está tendo uma crise de ansiedade?

Durante uma crise de ansiedade, o corpo reage como se estivesse sob uma ameaça real, ativando intensamente o sistema de alarme. Os sinais que surgem são variados e podem ser assustadores:

  • Sintomas físicos: Observe a respiração, que se torna rápida e ofegante, a famosa hiperventilação. Você também pode notar taquicardia (o coração batendo muito forte e acelerado), o que muitas vezes é confundido com um ataque cardíaco. Há também tremores visíveis, suor excessivo, tontura (que pode até dar a sensação de que a pessoa vai desmaiar) e uma sensação de aperto no peito ou na garganta. Náuseas e formigamentos em braços e pernas são igualmente comuns, indicando essa descarga fisiológica intensa.
  • Sintomas cognitivos e emocionais: Na mente, há um medo intenso e súbito, uma sensação avassaladora de que algo terrível vai acontecer. Muitas pessoas experimentam a sensação de perder o controle, de que estão “enlouquecendo”, ou até mesmo o medo de morrer – um pavor real e visceral, como se a vida estivesse por um fio. Em alguns casos, pode haver desrealização, quando o ambiente ao redor parece estranho, distante ou irreal, aumentando ainda mais a confusão.

Ao observar, faça isso com suavidade. Não invada o espaço da pessoa com um olhar fixo ou insistente. Preste atenção em sua postura, se ela está muito tensa ou agitada. Note o ritmo da respiração e se a fala está acelerada, travada ou incoerente. 

Avaliar o nível de orientação (se ela sabe onde está ou o que está acontecendo) também fornece pistas importantes.

Quanto tempo dura a crise de ansiedade e por que parece interminável?

Para quem vivencia, uma crise de ansiedade pode parecer uma eternidade. No entanto, o corpo humano não consegue sustentar um estado de alarme máximo por muito tempo. Um ataque de pânico típico atinge seu pico em cerca de 10 minutos. A duração total da crise, com os sintomas diminuindo gradualmente, geralmente varia entre 5 e 20 minutos.

Apesar da intensidade, é fundamental que você saiba – e possa transmitir à pessoa, quando apropriado – que apesar de serem assustadoras, essas crises não são perigosas de verdade. Os sintomas atingem o pico em alguns minutos e depois passam sem causar danos físicos.

Quando a crise de ansiedade pode ser outra coisa e não dá para arriscar?

Apesar das crises de ansiedade não serem fatais, é crucial saber diferenciar os sintomas e agir com cautela. Existem sinais que exigem uma avaliação médica imediata, pois podem indicar algo além da ansiedade:

  • Dor no peito diferente do habitual: Se a dor é muito forte, irradiando para o braço, pescoço ou mandíbula, e não melhora com as técnicas de respiração.
  • Desmaio: Qualquer perda de consciência deve ser tratada como emergência médica.
  • Confusão intensa e persistente: Se a pessoa não consegue responder a perguntas simples, está desorientada no tempo e espaço, ou apresenta um comportamento muito diferente do usual.
  • Histórico cardíaco: Se a pessoa já tem problemas no coração, os sintomas podem ser ainda mais preocupantes e exigem atenção redobrada.
  • Falta de ar severa fora do padrão: Se a dificuldade para respirar é tão intensa que há cianose (coloração azulada na pele ou lábios) ou sibilância (chiado no peito), o que não é típico da ansiedade.

Nesses casos, não hesite em priorizar a avaliação de urgência. Ligue para o SAMU (192), vá a um pronto-socorro ou acione ajuda médica imediatamente. Sua rapidez pode ser decisiva.

O que fazer para ajudar uma pessoa com crise de ansiedade?

Meu conselho principal para esses momentos é: primeiro você regula a cena, depois você regula a respiração. Isso significa que, antes de tentar qualquer intervenção direta com a pessoa, você deve se certificar de que o ambiente está o mais propício possível para acalmar. 

Lembre-se, a meta é garantir a segurança imediata e a estabilização, não “resolver a vida” ou as causas profundas da ansiedade naquele momento.

Passo 1: regule o ambiente sem transformar a pessoa em atração

Reduzir os estímulos externos é um passo fundamental. Pense na crise de ansiedade como uma sobrecarga do sistema nervoso; cada nova informação sensorial – um barulho, uma luz forte, um olhar curioso – pode ser um gatilho a mais para intensificar o sofrimento.

  • Reduza estímulos: Procure um local onde haja menos barulho, menos pessoas e menos luz forte. Se estiverem em um ambiente movimentado, um canto mais tranquilo, um ambiente silencioso, longe de olhares curiosos, pode fazer uma diferença enorme.
  • Garanta privacidade: Se a crise acontece em público, tente levar a pessoa para um lugar mais reservado ou, se possível, para um local mais calmo e privado. Isso ajuda a evitar que ela se sinta ainda mais exposta e constrangida, o que poderia agravar o medo.
  • Evite o excesso de vozes: Peça, com gentileza, para outras pessoas que se aproximarem se afastarem um pouco. Muitas vozes ao mesmo tempo podem sobrecarregar ainda mais quem está em crise, dificultando o foco e a calma.

Passo 2: fique perto e conduza com frases curtas

Sua presença já é um sinal de que a pessoa não está sozinha. Mantenha-se ao lado dela, a menos que ela explicitamente peça espaço – nesse caso, tente ficar por perto e atento, assegurando que ela não corre perigo.

  • Use frases simples e repetíveis: A mente em crise está em caos, sobrecarregada. Fale de forma clara, lenta e com poucas palavras. Mensagens curtas e diretas, quase como um mantra, são mais eficazes. Por exemplo: “Estou aqui com você”, “Isso vai passar”.
  • Não discuta, não justifique: Este não é o momento para análises profundas, para tentar entender a causa da crise ou pedir justificativas. O foco é total no alívio imediato e no suporte presente.

Passo 3: ofereça segurança com realidade sem minimizar o sofrimento

É essencial que você valide o que a pessoa está sentindo, mas também reforce que a crise vai passar.

  • Reconheça o medo: Diga algo como: “Eu sei que é assustador o que você está sentindo, mas estou aqui com você e vai passar.” Essa frase reconhece a intensidade do sofrimento sem minimizá-lo, mas ao mesmo tempo oferece um horizonte de melhora.
  • Evite promessas vazias: Não use frases vazias como “vai ficar tudo bem” de forma leviana. Em vez disso, concentre-se na sua capacidade de estar presente e oferecer suporte imediato: “Vou ficar aqui com você agora, não vou a lugar nenhum.”

Passo 4: escolha uma intervenção principal (respiração OU grounding)

Para não sobrecarregar a mente já em caos, escolha uma única técnica para tentar conduzir.

  • Critério de escolha: Se a respiração está ofegante e descompassada, priorize o ritmo – foque nas técnicas de respiração guiada. Se a pessoa parece presa em pensamentos catastróficos, “desligada” do ambiente, o grounding a traz para o momento presente, desviando o foco do medo.
  • Apenas sua presença: Se a pessoa não demonstrar interesse em nenhuma técnica, ou se nada funcionar, apenas sua presença silenciosa já é um conforto imenso. Estar ali, sem pressionar, já é um ato poderoso de cuidado. 

Como acalmar uma pessoa em crise de ansiedade usando respiração e grounding?

A crise de ansiedade se alimenta de uma aceleração fisiológica e de um foco intenso no medo. O que acontece é que o sistema nervoso simpático (o da “luta ou fuga”) é ativado. 

Por isso, a ideia por trás da respiração e do grounding (ancoragem) é fornecer um ponto de foco alternativo para a mente agitada, ativando o sistema parassimpático (o do “descanso e digestão”) e trazendo a pessoa de volta ao presente.

Respiração guiada: como conduzir sem deixar a pessoa mais aflita

A respiração lenta e profunda ativa o sistema nervoso parassimpático, o mecanismo de relaxamento do corpo, e reduz a atividade do sistema de estresse, diminuindo os sintomas de ansiedade aguda.

  • Postura e ritmo: Se a pessoa puder, peça para ela se sentar em uma posição confortável e tentar soltar a tensão do corpo. Mantenha sua voz calma, baixa e suave, e demonstre a respiração com você mesmo, tornando o exercício menos abstrato.
  • Sequência sugerida: Guie a pessoa a inspirar lentamente pelo nariz (contando, por exemplo, até 4), segurar um instante (1-2 segundos) e soltar o ar pela boca de forma mais longa (contando até 4-6). Repita esse ciclo por alguns minutos, focando na expiração mais longa, que é a parte mais relaxante.
  • O que fazer se a pessoa disser “não consigo respirar”: Paradoxalmente, focar na respiração pode, às vezes, aumentar a sensação de falta de ar para a pessoa já aflita. Se ela expressar essa dificuldade ou resistência, não insista. Migre imediatamente para uma técnica de grounding, que pode ser mais eficaz nesse momento.
Um roteiro para guiar a respiração

Use essas frases, ajustando para o que parecer mais natural no momento:

  • “Olhe para mim” ou “Me escute” (se fizer sentido e a pessoa puder manter o contato visual ou auditivo).
  • “Inspira… agora segura um instante… solta devagar pela boca.”
  • “De novo… inspira… segura… solta devagar.”
  • “Agora só acompanha minha contagem: um, dois, três, quatro (inspira)… um, dois (segura)… um, dois, três, quatro, cinco, seis (solta).”

Grounding 5-4-3-2-1: quando a respiração não ajuda

Esta técnica é excelente quando a mente da pessoa está “voando” em cenários catastróficos, e ela parece “desligada” do ambiente. O grounding a traz de volta ao momento presente, focando nos cinco sentidos.

  • Quando usar: Use o método “5-4-3-2-1” focado nos sentidos – peça para a pessoa descrever 5 coisas que vê ao redor, 4 sons que escuta, 3 sensações táteis que sente, 2 aromas que percebe e 1 gosto. Este exercício sensorial ajuda a mente a se reconectar com o ambiente e reduzir a espiral de pânico.
  • Detalhando o método:
    • 5 coisas que você vê: “Qual a cor da sua blusa? O que você vê na parede? Me descreva o relógio ali.”
    • 4 coisas que você escuta: “Escuta o barulho do vento lá fora? O que mais você ouve?”
    • 3 coisas que você sente: “Sente o chão sob seus pés? A textura da sua calça? O ar na sua pele?”
    • 2 cheiros: “Sente algum cheiro diferente no ambiente? Talvez o cheiro do seu perfume?”
    • 1 sabor: “Que gosto você sente na sua boca agora? O gosto da água que você bebeu? Ou o gosto de nada?”

Alternativas rápidas de grounding

  • Contagem regressiva lenta: Conte de 10 a 0 lentamente, junto com a pessoa, focando na sua voz e no ritmo dos números.
  • “Pés no chão”: Peça para ela pressionar os pés no chão e sentir o apoio da cadeira ou do solo. Concentrar-se na gravidade e na sensação física ajuda a “aterrar”.
  • Gelo na mão/pulso: Com cuidado e pedindo consentimento, um cubo de gelo na palma da mão ou no pulso pode trazer um estímulo sensorial forte e breve. O choque sensorial inesperado pode interromper o ciclo de ansiedade momentaneamente.

Infográfico educativo explicando como ajudar uma pessoa com crise de ansiedade de forma prática

O que falar para uma pessoa com crise de ansiedade?

As palavras, por si só, não “curam” uma crise de ansiedade. No entanto, elas atuam como âncoras emocionais, capazes de reduzir o medo e a profunda sensação de solidão que a pessoa pode estar sentindo. 

Lembre-se que o tom de voz e a simplicidade das frases importam muito mais do que discursos longos e elaborados. O ideal é usar um tom de voz baixo e suave, quase como se estivesse guiando uma meditação.

Frases que ajudam (validação + segurança)

  • Reconhecimento do sofrimento: “Eu sei que é muito ruim o que você está passando agora”, “Parece assustador mesmo”. Valide o quão desconfortável deve estar sendo, pois isso mostra empatia.
  • Permanência: “Estou aqui com você”, “Não vou a lugar nenhum, fique tranquila”.
  • Horizonte de melhora: “Vai passar”, “Isso não vai te fazer mal”, “Seu corpo vai se acalmar”, “Aguente firme comigo”. Dê um horizonte de curto prazo.
  • Evite otimismo forçado e explicações racionais: Ser otimista demais ou afirmar que o medo é ilógico tende a agravar a ansiedade. A pessoa em crise não consegue absorver a lógica; isso soa como crítica e só piora a situação.

Perguntas que organizam a crise sem pressionar

Faça perguntas objetivas, que ajudem a mente a focar no que pode dar algum conforto e a retomar um mínimo senso de controle. “Do que você precisa agora?” é uma excelente pergunta, por exemplo.

  • Perguntas simples e objetivas: “Você quer sentar?”, “Quer beber um pouco de água?”, “Prefere que eu fique em silêncio?”. Essas opções dão a ela uma escolha e um foco.
  • Sempre pergunte antes de tocar: “Posso segurar sua mão?”, “Posso te abraçar?” – respeitar os limites e o espaço corporal do outro é fundamental, pois um toque não solicitado pode aumentar o pânico.

Como encorajar uma pessoa com crise de ansiedade sem parecer que você está mandando

O encorajamento não deve ser uma pressão para melhorar imediatamente, mas sim um reconhecimento do esforço que a pessoa está fazendo para atravessar aquele momento.

  • Microencorajamentos: Reconheça cada pequeno progresso. “Sua respiração já está diminuindo um pouco, veja só!”, “Que bom, está diminuindo, né? Você conseguiu passar por isso!”.
  • Reforce a capacidade: “Você está conseguindo superar isso, mesmo sendo tão difícil”, “Você foi muito corajosa”. Elogios sinceros ajudam a pessoa a recuperar a confiança pós-crise.

O que não falar e o que não fazer com uma pessoa em crise de ansiedade?

É comum que, na tentativa de ajudar, mesmo com as melhores das intenções, as pessoas acabem usando frases ou atitudes que pioram a situação. Muitas vezes, evitar certos comportamentos é tão importante quanto saber o que fazer, e isso já melhora muito o apoio que você oferece.

Frases que pioram (e por quê)

  • “Isso é frescura”, “para com isso”, “não tem motivo para você ficar assim”, “se controla!”: Nunca diga coisas que minimizem ou invalidem o sofrimento da pessoa. Essas frases são “extremamente prejudiciais”, pois invalidam o sentimento dela e podem aumentar a angústia.
  • “Calma!”: Essa palavra, dita como uma ordem, soa como uma bronca ou cobrança. Se a pessoa pudesse, já estaria calma. É contraintuitivo, mas não ajuda.
  • Racionalização do medo (“isso não faz sentido”, “não é pra tanto”): A pessoa já sabe que não faz sentido racional, mas não consegue controlar. Tentar racionalizar só gera mais culpa e frustração. 

Ações que atrapalham

  • Não chacoalhe ou segure com força: A menos que seja para evitar um risco real de que a pessoa se machuque, movimentos bruscos ou toques não solicitados podem aumentar o pânico.
  • Não faça você virar centro das atenções: Se estiverem em público, evite aglomerar curiosos. Gentilmente, dispense-os para evitar que a pessoa se sinta constrangida.
  • Não abandone abruptamente: Sair de perto e deixá-la sozinha pode agravar o medo e a sensação de desamparo. Mantenha-se presente.

O que evitar por segurança

  • Esqueça a técnica do saco de papel: Apesar de popular no passado, respirar em um saco de papel não é uma prática segura nem recomendada pelos profissionais. Há estudos que indicam que isso pode ser perigoso em alguns casos (por exemplo, se não for realmente crise de pânico, mas algo físico). O foco deve ser na respiração guiada em ar livre ou nas técnicas de grounding.
  • Se houver suspeita de emergência médica, busque ajuda: Em caso de qualquer dúvida sobre a natureza dos sintomas, ou se eles persistirem de forma atípica, não hesite em procurar atendimento médico. Sua prioridade é a segurança da pessoa.

Como ajudar uma pessoa com crise de ansiedade por mensagem?

Nem sempre estamos ao lado de quem amamos quando a crise acontece. Com a vida agitada, o contato virtual é uma realidade constante. Nesses casos, a mensagem pode funcionar muito bem quando ela se torna um “guia” pontual, e não um “textão” que irá apenas sobrecarregar quem está passando por uma crise de ansiedade. 

Os princípios de ajuda são os mesmos, mas aplicados virtualmente.

Primeiro contato: o que enviar nos primeiros 30 segundos

A agilidade é importante para mostrar que você está presente e pronto para ajudar. Responda prontamente. Mande uma mensagem que inclua:

  1. Presença: “Estou aqui com você. Vou te ajudar agora.” Isso permite que a pessoa saiba que não está sozinha.
  2. Instrução única: “Respire comigo. Tente inspirar pelo nariz contando até 4.” (para dar um foco imediato e prático).
  3. Pergunta de segurança: “Você está em um lugar seguro agora?” (para avaliar o ambiente e o risco, e se há necessidade de acionar alguém próximo).

Como conduzir a respiração por texto ou áudio

  • Mensagens curtas em sequência: Envie uma instrução por vez, esperando a resposta da pessoa antes de mandar a próxima. Isso evita sobrecarregar com muitos textos.
  • Use áudios: Gravar áudios curtos contando o tempo de respiração, com sua voz calma e em ritmo estável, pode ser mais acolhedor e eficaz do que apenas o texto. Isso ajuda a pessoa a sincronizar a própria respiração com o ritmo proposto.

Quando acionar alguém perto (ou emergência)

Mesmo à distância, é vital avaliar a gravidade. Estas perguntas são cruciais para mapear a situação:

  • “Onde você está agora?”
  • “Você está sozinho(a)?”
  • “Tem alguém por perto que eu possa avisar?”

Se a pessoa escrever que “não está conseguindo respirar de jeito nenhum” ou “que acha que vai desmaiar”, e você não pode estar lá, considere acionar alguém próximo a ela ou até um serviço de emergência se houver indícios de algo físico sério

Não hesite em buscar ajuda externa se a saúde dela estiver em risco. Pergunte a localização da pessoa se você suspeitar que precisará enviar socorro.

Apoio emocional direto que exemplifica como ajudar uma pessoa com crise de ansiedade

Depois que a crise passa, como apoiar a pessoa sem invadir o espaço dela?

Após a intensidade avassaladora da crise, é comum que a pessoa se sinta esgotada fisicamente, com a mente confusa e, às vezes, envergonhada ou culpada pelo ocorrido:

  • Ações práticas: Ofereça água fresca – a respiração ofegante e a tensão da crise podem causar secura na boca. Incentive-a a sentar em um local confortável e calmo, ou deitar com um travesseiro baixo se ajudar. Se ela estiver com frio (tremores pós-adrenalina são comuns) ou calor, ajude-a a se agasalhar ou a se abanar.
  • Linguagem de acolhimento: Converse sobre o que aconteceu em tom acolhedor. Diga que ela foi corajosa, que conseguiu passar por aquilo. Reforce que ela não precisa se envergonhar nem se sentir culpada, e que você não a julga. Evite infantilizar, tratando-a com a dignidade que ela merece, mesmo em um momento de vulnerabilidade.

O que falar depois: acolher, não investigar

  • Evite o interrogatório: Não comece com “por que isso aconteceu?” ou “o que você fez para causar isso?”. A pessoa pode nem saber ao certo o gatilho, e pressioná-la só gera mais ansiedade.
  • Pergunte o que ajuda para a próxima vez: Este é o momento de planejar um “plano de ação” para o futuro. Pergunte como você pode ajudar da melhor forma se acontecer de novo. Descubra suas preferências: se ela prefere um abraço ou apenas que você segure a mão, se prefere silêncio ou que você converse, ou se deseja sair do local. Cada pessoa tem preferências no controle da ansiedade.

Hora de olhar para o longo prazo (sem pressão)

É um fato que a ansiedade é muito prevalente. 68% dos brasileiros relataram sentir nervosismo, ansiedade ou tensão frequentemente em uma pesquisa de 2024. No entanto, mais da metade dos entrevistados nunca buscou apoio profissional para lidar com esses sintomas. 

Isso normaliza a dificuldade em buscar ajuda, mas também abre uma porta para você incentivar o tratamento.

  • Sugira com delicadeza: Se as crises se repetem, afetam o dia a dia, ou se tornam muito intensas, sugerir que converse com um psicólogo ou psiquiatra é um passo importante. Faça isso em um momento tranquilo, sem pressão. Reforce que buscar ajuda não é sinal de fraqueza, e sim uma atitude corajosa para melhorar a qualidade de vida.
  • Ação concreta: Você pode oferecer ajuda para encontrar um profissional, agendar a primeira consulta, ou até acompanhá-la, caso a pessoa se sinta confortável com isso.

Como lidar com ansiedade no dia a dia sem virar “fiscal da saúde mental alheia”?

Ajudar quem vive com ansiedade no cotidiano é mais sobre consistência e compreensão do que sobre frases perfeitas. Pense que o apoio contínuo é um maratonista, não um velocista. É importante lembrar que seu papel é de suporte, não de salvador ou terapeuta.

O que costuma ajudar no dia a dia:

  • Escuta sem julgamento e validação: Deixe a pessoa ansiosa desabafar preocupações sem imediatamente tentar ‘consertá-la’. Comentários como ‘Entendo que você está preocupado com isso’ em vez de ‘Nossa, você se preocupa à toa’ fazem toda a diferença”.
  • Combinar sinais: Pergunte diretamente como você pode ajudar no dia a dia. Criar códigos como “Se eu te mandar mensagem ‘X’, significa que preciso de ajuda agora” pode facilitar a comunicação.
  • Incentivar rotinas de autocuidado: Sugira rotinas de sono adequadas, redução de estimulantes como cafeína, e momentos de relaxamento em períodos de estresse, sempre como uma opção e não como uma imposição.

O que costuma piorar sem querer:

  • Pressionar: Não force a pessoa a encarar medos do nada ou fazer algo que ela não se sente pronta. Frases como “Você precisa sair disso” ou “Enfrenta logo esse medo” podem gerar mais culpa e retraimento.
  • Minimizar: Fazer piadas sobre a ansiedade ou comparar o sofrimento dela com o de outras pessoas. Lembre-se, a dor é individual e deve ser respeitada.

Como você se protege para conseguir ajudar melhor:

Colocar limites é fundamental. Lembre-se que você é um apoio, mas não substitui o cuidado profissional. Não assuma o papel de terapeuta, apenas de amigo/familiar solidário.

  • Divida a responsabilidade: Se houver outras pessoas na rede de apoio, dividam o cuidado. Você não precisa carregar todo o peso sozinho. Afinal, a rede de apoio também precisa de apoio.
  • Faça pausas e cuide de você: Apoiar alguém com ansiedade pode ser exaustivo. Permita-se ter seus próprios momentos de descanso e autocuidado. Buscar grupos de apoio para familiares ou orientações com profissionais para saber lidar com a situação também é válido.

Quando procurar ajuda médica ou psiquiátrica?

Crises de ansiedade repetidas e o medo constante de novos episódios não precisam se tornar uma parte “normal” da vida de ninguém. A ajuda profissional pode organizar um plano de tratamento  e prevenção personalizado, oferecendo estratégias e, se necessário, tratamentos que fazem uma diferença enorme.

Sinais de que vale avaliar as crises de ansiedade com um profissional:

  • Crises recorrentes: Se a frequência ou intensidade das crises aumenta, ou se elas acontecem “do nada”. Cerca de 1 em cada 10 adultos (11%) experimenta pelo menos um ataque de pânico por ano, mas o transtorno do pânico, com ataques recorrentes, afeta 2% a 3% da população anualmente, sendo mais comum em mulheres.
  • Evitamento: Se a ansiedade leva a pessoa a evitar situações, lugares ou pessoas, limitando suas atividades diárias, como trabalho, estudos ou socialização.
  • Impacto significativo: Quando a ansiedade causa prejuízos importantes em áreas importantes da vida.
  • Medo persistente: Se há um medo constante e preocupação excessiva com a possibilidade de ter outra crise.
  • Uso de substâncias: Se a pessoa começa a usar álcool, drogas ou medicação por conta própria como forma de automedicação para “segurar” a ansiedade.

Sinais de urgência que não devem esperar:

Em alguns momentos, a crise de ansiedade pode ter sintomas que exigem atenção médica imediata para garantir a segurança da pessoa. Não hesite em buscar atendimento quando houver:

  • Desmaio ou qualquer perda de consciência.
  • Dor torácica intensa e persistente, particularmente se for atípica ou acompanhada de outros sintomas como irradiação para o braço.
  • Confusão mental severa que impede a pessoa de responder ou se orientar.
  • Risco de autoagressão: Se a pessoa fala em se machucar, faz gestos nesse sentido ou se coloca em situações perigosas.

Nesses casos, não hesite em ligar para o SAMU (192) ou levar a pessoa a um pronto-socorro imediatamente.

Sua ajuda faz toda a diferença: um resumo para guardar com você

É compreensível que as crises de ansiedade assustem muito, tanto quem as sente quanto você, que está por perto tentando ajudar. No entanto, quero que você saiba que existe um caminho e que sua capacidade de manter a calma e agir com carinho é o maior presente que você pode oferecer.

Se você estiver pensando em como ajudar uma pessoa com crise de ansiedade, guarde este pequeno guia: 

  1. Regule a cena e garanta a segurança: Reduza os estímulos ao redor e ofereça um ambiente calmo. Sua presença é fundamental para que a pessoa não se sinta sozinha.
  2. Conduza a situação: Escolha uma técnica (respiração guiada ou grounding) e guie a pessoa com frases curtas, um tom de voz suave e palavras de validação, focando em trazer a mente dela de volta ao presente.
  3. Acolha no pós-crise e olhe para o futuro: Após a crise, ofereça água, conforto e palavras de encorajamento. E, quando for o momento certo, com delicadeza, incentive a busca por ajuda profissional para um manejo contínuo da ansiedade.

E, se você ou alguém que você ama precisa de mais orientação, busca tratamento ou tem dúvidas sobre a ansiedade, estou aqui para ajudar. 

Atendo como psiquiatra em Curitiba e também realizo atendimentos remotos e online. Minha missão é oferecer um suporte qualificado e humano. Entre em contato e agende sua consulta para darmos os próximos passos rumo ao bem-estar e a uma vida mais equilibrada.

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Dra. Priscila Ruwer

Dra. Priscila Ruwer

Sou médica psiquiatra em Curitiba, formada pela Universidade Federal de Goiás, com residência médica em Psiquiatria e especialização em Atenção Básica pela UFSC. Penso na psiquiatria não só como um conjunto de técnicas da medicina, mas como uma prática centrada na escuta ativa e cuidado individualizado. Atendo em consultório no centro de Curitiba e também realizo consultas online, acompanhando casos de ansiedade, depressão, TDAH, transtornos de humor e outras condições que precisam de atenção especializada. Meu objetivo é construir, junto com você, caminhos para recuperar sua qualidade de vida.

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