Será que é menopausa precoce? Identifique os sinais e descubra

Se nos últimos tempos você tem sentido um cansaço fora do normal, emoções à flor da pele que parecem ter vida própria ou, talvez, percebido que seu ciclo menstrual está dando sinais diferentes do habitual, pode ser que você esteja enfrentando os primeiros indícios da menopausa precoce.  Sei que ouvir essa expressão antes dos 40 …

Folha vermelha entre folhas secas, simbolizando a menopausa precoce que acontece antes da idade esperada

Se nos últimos tempos você tem sentido um cansaço fora do normal, emoções à flor da pele que parecem ter vida própria ou, talvez, percebido que seu ciclo menstrual está dando sinais diferentes do habitual, pode ser que você esteja enfrentando os primeiros indícios da menopausa precoce. 

Sei que ouvir essa expressão antes dos 40 anos pode gerar uma confusão de sentimentos, mas quero acalmar seus medos te ajudando a entender tudo sobre essa condição médica que afeta mais de 30 milhões de mulheres no Brasil

Sumário

O que é menopausa precoce?

De forma simples, a menopausa precoce acontece quando seus ovários deixam de funcionar antes da idade usual, levando à ausência de menstruação por um período de 12 meses consecutivos

É como se eles envelhecessem ou parassem de trabalhar muito antes do esperado, interrompendo uma fase da vida que você talvez nem imaginasse que terminaria tão cedo.

No consultório, eu e outros colegas da área da saúde tendemos a usar termos como insuficiência ovariana primária (IOP) ou falência ovariana prematura (FOP). Mas não se apegue demais à nomenclatura; o mais importante é entender o processo e como ele te afeta.

Menopausa natural x menopausa precoce: qual a diferença?

Quando pensamos na menopausa que a maioria das mulheres experimenta, visualizamos um processo que ocorre mais adiante na vida, geralmente entre os 45 e 55 anos, com uma média por volta dos 51. 

Nesse cenário, os ovários vão esgotando gradualmente a sua reserva de folículos ao longo de anos, e o corpo tem tempo para se adaptar a essas mudanças hormonais de forma mais suave.

Por outro lado, na menopausa precoce, essa falência dos ovários acontece de maneira antecipada e, muitas vezes, de forma súbita. 

Essa surpresa tem um impacto emocional muito particular. 

De repente, você se vê diante de uma mudança significativa, que a maioria de suas amigas da mesma idade, por exemplo, não estão vivenciando. Isso pode gerar um sentimento de estar fora de sincronia com o seu próprio tempo biológico, trazendo consigo desafios únicos, tanto para o seu bem-estar físico quanto para sua saúde emocional.

Com qual idade a menopausa é considerada precoce?

Quando pensamos no eixo do tempo da vida de uma mulher, a menopausa natural costuma acontecer em uma janela que vai dos 45 aos 55 anos, sendo a média por volta dos 51, como falamos anteriormente. É um marco que, embora traga suas próprias transformações, é esperado dentro de um período mais avançado da vida reprodutiva.

A idade da menopausa precoce, no entanto, é definida quando essa interrupção da função ovariana ocorre antes dos 40 anos. Isso significa que, se você está na faixa dos 30, ou até mesmo antes, e percebe os sinais que conversamos, é vital estar atenta. 

Para te dar uma perspectiva, não é um cenário tão raro quanto se pensa: cerca de 1 em cada 100 mulheres vai enfrentar a menopausa antes dos 40 anos. E, para aquelas que estão antes dos 30, a frequência é de aproximadamente 1 em cada 1.000. 

Então, é possível entrar na menopausa aos 35 anos?

É plenamente possível entrar na menopausa aos 35 anos, ou até mesmo em idades ainda mais jovens. Sei que pode ser difícil de assimilar, mas o corpo feminino é complexo e diversas circunstâncias podem levar a essa antecipação.

No entanto, é muito importante que, caso você suspeite que isso esteja acontecendo, busque uma avaliação médica detalhada. 

A ausência de menstruação e outros sintomas nessa idade podem ter diferentes causas, e é fundamental descartar outras condições antes de confirmar um diagnóstico de menopausa precoce. 

Cada caso é único e precisa de um olhar profissional cuidadoso para um diagnóstico preciso e para traçar o melhor plano de cuidado para você.

Por que profissionais falam de “insuficiência ovariana primária”?

Eu mencionei esses outros dois termos anteriormente: “insuficiência ovariana primária” ou “falência ovariana prematura”. Existe uma razão para isso. A palavra “menopausa” no senso comum está muito associada a um processo natural que ocorre na meia-idade, ao fim do período reprodutivo.

No entanto, quando isso acontece antes dos 40 anos, não é apenas um “fim antecipado” da reprodução, mas sim uma falha dos ovários em cumprir sua função, daí o termo “insuficiência” ou “falência”. 

O “primária” ou “prematura” reforça que essa condição se manifesta muito antes do esperado. É uma forma de nós, profissionais, reconhecermos a peculiaridade dessa situação, diferenciando-a do processo natural e destacando que é uma condição médica que exige um olhar e um tratamento específicos, que vão além do que se espera para a menopausa na idade habitual. 

Tabela comparando menopausa natural e menopausa precoce em idade, evolução, sintomas e abordagem médica
A menopausa precoce ocorre antes dos 40 anos e muitas vezes de forma súbita, diferente da menopausa natural.

Quais são os primeiros sinais da menopausa precoce na saúde mental?

Muitas vezes, os primeiros alertas que seu corpo e sua mente nos enviam não são os fogachos óbvios, mas sim mudanças sutis no seu dia a dia que, juntas, começam a confundir você. 

Você se pega refletindo sobre o estresse excessivo, a sensibilidade mais alta, a irritação fora do normal. Esses são alguns dos sintomas da menopausa precoce que se manifestam primeiro no campo mental e cognitivo, impactando sua rotina de formas inesperadas.

E não é um sentimento isolado: a experiência clínica mostra que, infelizmente, quase uma em cada três mulheres com essa condição lida com sintomas depressivos. A insônia, que antes podia ser esporádica, passa a ser uma constante, e a mente parece mais lenta, como se estivesse sob uma “névoa cerebral”, dificultando a memória e a atenção.

Humor, energia e motivação: por que tudo parece oscilar?

O estrogênio, hormônio que diminui drasticamente na menopausa precoce, tem um papel muito importante no funcionamento do seu cérebro. Ele influencia os neurotransmissores, as substâncias químicas que regulam seu humor, sua energia e até sua capacidade de sentir prazer e motivação.

Quando os níveis de estrogênio caem antes do tempo, essa delicada orquestra neuroquímica pode desafinar. 

A relação entre a queda hormonal e as alterações neuroquímicas é um dos motivos pelos quais você pode sentir essa instabilidade de humor, a diminuição da sua energia habitual e a perda de motivação para coisas que antes te animavam.

Autoestima e imagem corporal: impactos silenciosos

Em meio a todas essas mudanças internas, a sua autoestima e a forma como você se vê também podem sofrer impactos. De repente, seu corpo está passando por transformações que você associava a uma fase muito mais distante da vida. 

Além das alterações de humor, a percepção de uma possível perda de fertilidade ou mesmo as modificações que virão na aparência podem abalar a sua autoimagem.

É comum que surja uma sensação de “envelhecimento precoce” ou de perda de uma certa feminilidade associada à juventude e à capacidade reprodutiva. 

Essa dor, essa preocupação com o futuro da sua imagem ou de quem você é, é parte do processo. Reconheça esses sentimentos, acolha-os e, se sentir que estão pesando demais, saiba que sempre é possível buscar ajuda.

Por que a menopausa precoce afeta tanto a saúde mental?

Quando a menopausa acontece antes do esperado, ela se torna uma experiência de antecipação. É como se seu corpo estivesse pulando etapas, e sua mente precisa lidar com essa nova realidade de forma abrupta

Você pode se ver confrontada com a perda da capacidade reprodutiva em um momento em que talvez nem tivesse planos para a maternidade, mas onde a opção de ter filhos ainda era vista como algo distante, para o futuro.

Esse cenário, muitas vezes, desencadeia o que chamamos de luto reprodutivo. É um processo de luto real, causado pela perda de uma expectativa, de um projeto de vida, de uma parte da sua identidade feminina ligada à fertilidade. 

Não se sinta culpada ou estranha por sentir tristeza, raiva ou confusão. É uma resposta humana a uma mudança profunda e inesperada.

Sintomas físicos que repercutem na mente: sono, libido, relacionamentos e trabalho

Até agora, falamos muito sobre como a menopausa precoce impacta sua saúde mental de forma direta, certo? Mas é fundamental entender que essa condição também se manifesta fisicamente. 

Esses sintomas físicos criam uma ponte direta com a sua mente, reverberando em diversas áreas da sua vida, desde seu descanso noturno até a forma como você se relaciona e se dedica ao trabalho. 

É um ciclo que se retroalimenta, onde o físico afeta o emocional e vice-versa, e é importante reconhecer essa conexão para buscar o cuidado integral.

Sono picotado e irritabilidade: um ciclo que retroalimenta a ansiedade

Você finalmente pega no sono, mas é acordada por uma onda de calor intensa e suores. Isso se repete várias vezes na noite. Como você acha que seu dia seguinte será? 

Essa interrupção constante do sono é exaustiva e uma das queixas mais comuns na menopausa precoce. Noites mal dormidas, ou um “sono picotado”, são um terreno fértil para a irritabilidade

Você se sente mais impaciente, menos tolerante, e pequenas coisas podem se tornar grandes problemas. 

Essa irritabilidade, por sua vez, aumenta os níveis de estresse e ansiedade, dificultando ainda mais o relaxamento para uma próxima noite de sono. 

É um ciclo vicioso que afeta diretamente seu bem-estar e sua capacidade de lidar com os desafios diários.

Secura e dor: sexualidade, vínculo e conversa com o(a) parceiro(a)

A queda hormonal pode levar a um ressecamento da região vaginal, que, por sua vez, pode causar desconforto ou dor durante as relações sexuais. Não subestime o impacto disso na sua vida. 

A sexualidade é uma parte importante do bem-estar e da conexão em um relacionamento. Quando há dor ou desconforto, é natural que a libido diminua e que a espontaneidade se perca. Isso pode gerar frustração, tanto para você quanto para seu parceiro(a), e até mesmo afetar a intimidade e o vínculo entre vocês.

Minha orientação é: não sofra em silêncio. Conversar abertamente com seu parceiro(a) sobre o que você está sentindo é um passo fundamental. Explique as mudanças que seu corpo está vivenciando. 

A compreensão e o apoio mútuo podem fortalecer a relação e, juntos, vocês podem buscar soluções.

Trabalho e foco: quando a “névoa” atrapalha entregas

Você se lembra da “névoa cerebral” que mencionei? Aquela dificuldade de concentração, os lapsos de memória, a sensação de que está mais lenta para processar informações. Agora, imagine tudo isso dentro do seu ambiente de trabalho. 

Entregas que antes eram feitas com facilidade se tornam um desafio, a produtividade diminui, e você pode sentir que está perdendo o foco com mais frequência.

Essa névoa é uma manifestação cognitiva das alterações hormonais que seu corpo está vivenciando. Sua performance pode cair, você pode perder a confiança na sua capacidade e, consequentemente, o medo de não dar conta ou de ser mal avaliada pode surgir. 

É um estressor adicional que agrava a ansiedade e a frustração, tornando o dia a dia profissional muito mais pesado.

O que causa a menopausa precoce?

A menopausa precoce não costuma ter uma causa única, um único culpado. Na verdade, ela é frequentemente multicausal, ou seja, pode surgir de uma combinação de fatores, e em muitos casos, a origem exata permanece um mistério, o que chamamos de casos idiopáticos. Contudo, temos um bom conhecimento sobre as principais condições que podem levar a essa antecipação.

Causas genéticas e autoimunes: quando o corpo ataca o ovário

Algumas mulheres carregam em sua genética uma predisposição. Anomalias cromossômicas, como a Síndrome de Turner ou a premutação do X frágil, são exemplos de condições genéticas que podem levar os ovários a falharem muito mais cedo

Se há um histórico familiar de menopausa precoce, ou seja, sua mãe ou avó também passaram por isso antes do tempo, pode haver um componente genético envolvido que merece ser investigado.

Além disso, o próprio corpo, em algumas situações, pode se voltar contra si mesmo. Refiro-me às doenças autoimunes. 

Em cerca de 30% dos casos de menopausa precoce, o sistema imunológico, que deveria te proteger, começa a atacar os ovários, como se fossem um invasor, fazendo com que eles parem de funcionar. 

Condições como a tireoidite de Hashimoto, vitiligo ou Doença de Addison são exemplos de doenças autoimunes que podem estar associadas à insuficiência ovariana primária.

Menopausa induzida: cirurgia, quimio e radio

Existem situações onde a menopausa precoce é uma consequência direta de intervenções médicas necessárias. A mais evidente é a menopausa cirúrgica, que ocorre quando há a retirada de ambos os ovários, procedimento chamado de ooforectomia bilateral

Isso pode ser feito para tratar tumores, endometriose severa ou como medida preventiva em casos de alto risco de câncer, por exemplo. Nesse cenário, a menopausa acontece de imediato, independentemente da sua idade.

Outros tratamentos médicos agressivos, como a quimioterapia e a radioterapia, especialmente quando direcionadas à região pélvica, também podem danificar seriamente os ovários. 

Se você passou por tratamento de câncer na juventude, pode ser que a insuficiência ovariana seja um efeito colateral, infelizmente, permanente.

Estilo de vida e toxinas: o que sabemos (e o que não sabemos)

Seus hábitos e o ambiente em que você vive também podem ter um papel, embora nem sempre tão direto ou fácil de mapear. 

O tabagismo, por exemplo, é um fator bem conhecido. Mulheres que fumam tendem a entrar na menopausa cerca de dois anos mais cedo do que as não fumantes, é um efeito comprovado das toxinas do cigarro sobre os ovários.

Certos tipos de infecções virais, embora raras, também podem afetar os ovários. A caxumba na vida adulta, por exemplo, pode causar uma inflamação que leva à insuficiência ovariana.

Quanto ao estresse intenso e prolongado, ele é frequentemente mencionado, mas a ciência ainda está investigando seu papel exato na antecipação da menopausa

O que sabemos, sim, é que um estilo de vida estressante pode agravar e intensificar os sintomas, dificultando a sua percepção e o diagnóstico, já que você pode atribuir tudo ao cansaço e à pressão do dia a dia. 

É um quebra-cabeça complexo, e é por isso que um olhar atento a todos esses fatores é tão importante.

Infográfico com causas da menopausa precoce, incluindo fatores genéticos, autoimunes, induzidos e de estilo de vida
As causas da menopausa precoce podem ser genéticas, autoimunes, induzidas por tratamentos ou relacionadas ao estilo de vida.

Como saber se estou na menopausa precoce? 

O diagnóstico de menopausa precoce não se baseia apenas nos sintomas. Embora eles acendam um alerta importante, precisamos de dados mais concretos para confirmá-lo

O processo envolve uma conversa detalhada sobre seu histórico, uma avaliação clínica atenta e, sim, exames laboratoriais específicos. 

Geralmente, seu médico vai solicitar a dosagem do hormônio folículo-estimulante (FSH), que estará em níveis mais altos (acima de 30 mUI/mL) na menopausa precoce, e do estradiol (o principal estrogênio), que estará baixo. 

Pode ser que peça também o hormônio anti-mülleriano (AMH), cujos níveis baixos indicam uma reserva ovariana diminuída. Muitas vezes, esses exames são repetidos para confirmar a persistência dos resultados.

Além disso, antes de fechar qualquer diagnóstico, é crucial excluir outras causas que poderiam estar provocando a ausência de menstruação em mulheres jovens, como uma gravidez, problemas na tireoide ou um excesso de prolactina

Se você usa contraceptivos hormonais, o médico pode sugerir uma pausa, sob orientação, para verificar se a menstruação retorna. E, como parte desse cuidado integral, uma densitometria óssea inicial pode ser recomendada para avaliar a saúde dos seus ossos, já que a falta de estrogênio impacta diretamente neles.

O que levar à consulta: diário de ciclos, sono e humor

Comece a montar um diário. Anote as datas do seu ciclo menstrual, mesmo que irregulares. Registre também a intensidade e a frequência das ondas de calor, como está seu sono, se você acorda muitas vezes, se demora para dormir, se se sente cansada ao acordar.

Preste atenção também às suas emoções. Como está seu humor? Você tem se sentido mais irritada, ansiosa, ou com uma tristeza que não vai embora? Há quanto tempo essas mudanças acontecem? Ter esses detalhes em mãos vai ajudar o profissional a mapear seus sintomas e a entender a linha do tempo das suas mudanças, facilitando muito o diagnóstico e a elaboração de um plano de tratamento específico para você.

Quando investigar causas (genética/autoimune) e por quê

Uma vez que o diagnóstico de menopausa precoce é confirmado, o próximo passo pode ser tentar entender a sua origem. Isso não acontece em todos os casos, pois como mencionei, muitas vezes a causa permanece desconhecida. No entanto, em algumas situações, essa investigação é muito importante.

Por exemplo, se você tem um histórico familiar forte de menopausa precoce, ou se o diagnóstico acontece em uma idade muito jovem (antes dos 35 anos, por exemplo), seu médico pode sugerir testes genéticos

Isso pode incluir um cariótipo ou a pesquisa de mutações específicas que podem estar ligadas à insuficiência ovariana. Saber se há uma causa genética pode ser relevante para sua família e para futuras decisões reprodutivas.

Da mesma forma, se houver sinais ou histórico pessoal de doenças autoimunes, seu médico pode solicitar exames específicos para investigá-las, como a pesquisa de autoanticorpos

O motivo para essa investigação é identificar se a causa subjacente pode ter implicações para sua saúde geral, permitindo o tratamento de outras condições associadas e um cuidado mais completo e preventivo. Entender o porquê ajuda a cuidar melhor do agora e do seu futuro.

Tratamento da menopausa precoce: o que ajuda (especialmente) na saúde mental

Quando você recebe o diagnóstico de menopausa precoce, é natural sentir uma mistura de sentimentos, mas é crucial saber que existem tratamentos. 

O objetivo principal não é apenas aliviar os sintomas que você sente no dia a dia, mas também prevenir as complicações de longo prazo que a falta de estrogênio pode causar, protegendo sua saúde óssea, cardiovascular e, fundamentalmente, sua saúde mental. 

O tratamento é sempre individualizado, desenhado sob medida para você, considerando sua idade, sintomas, histórico de saúde e suas preferências.

TRH na mulher jovem: por que o raciocínio é diferente do climatério tardio

Para mulheres jovens com menopausa precoce, a Terapia de Reposição Hormonal (TRH) assume um papel que vai além do alívio de sintomas. Diferentemente do climatério que ocorre na idade esperada, onde a decisão pela TRH pode ser mais ponderada entre benefícios e riscos para alívio de sintomas, na menopausa precoce, a reposição hormonal é frequentemente recomendada de forma imediata.

Isso acontece porque, sem o estrogênio, você passaria muitos anos desprotegida. A TRH ajuda a mimetizar o que o seu próprio corpo faria naturalmente até a idade média da menopausa (por volta dos 50 anos). Os benefícios são múltiplos e impactam diretamente a saúde mental:

  • Alívio de Fogachos e Suores Noturnos: A melhora rápida desses sintomas significa noites de sono mais tranquilas, o que reduz drasticamente a irritabilidade e a fadiga, melhorando o humor.
  • Melhora do Humor: O estrogênio tem um papel direto na regulação de neurotransmissores cerebrais. Sua reposição pode reduzir a intensidade das oscilações de humor, a ansiedade e os sentimentos depressivos.
  • Proteção Óssea e Cardiovascular: Ao proteger seus ossos da perda de massa e seu coração de riscos cardiovasculares, a TRH previne preocupações futuras, aliviando o estresse e a ansiedade relacionados à saúde a longo prazo.

A TRH geralmente combina estrogênio e progestagênio para proteger o endométrio. É claro que existem contraindicações e seu médico avaliará cuidadosamente seu perfil para garantir a segurança e eficácia do tratamento.

Quando não posso usar hormônio, o que fazer?

Em alguns casos, a TRH pode não ser uma opção, seja por contraindicações médicas ou por escolha pessoal. Mas isso não significa que você ficará sem suporte! Existem muitos caminhos que podem aliviar os sintomas e melhorar sua qualidade de vida, impactando positivamente sua saúde mental:

  • Medicamentos Não Hormonais: Para os incômodos fogachos, por exemplo, certos antidepressivos (da classe dos ISRS/IRSN) em doses baixas podem ser muito úteis. Eles ajudam a diminuir a frequência e intensidade das ondas de calor.
  • Estrogênio Vaginal Local: Se a secura vaginal e a dor na relação sexual são um problema, mesmo que você não possa usar hormônio sistêmico, o estrogênio aplicado localmente (em cremes ou anéis vaginais) pode trazer alívio significativo com absorção mínima pelo corpo. 
  • Estilo de Vida Ativo: A atividade física regular é sempre um aliado. Além de proteger seus ossos e coração, o exercício libera endorfinas, que são neurotransmissores associados ao bem-estar, ajudando a melhorar o humor, reduzir a ansiedade e até a qualidade do sono.
  • Alimentação Saudável e Suplementação: Uma dieta balanceada, rica em cálcio e vitamina D (com suplementação se necessário), é fundamental para a saúde óssea. Além disso, cuidar da alimentação de forma geral nutre seu corpo e mente.
  • Higiene do Sono: Adotar uma rotina de sono regular, criar um ambiente relaxante antes de dormir e evitar estimulantes pode fazer uma grande diferença para combater a insônia, que, como vimos, retroalimenta a irritabilidade.
  • Técnicas de Relaxamento: Yoga, meditação e mindfulness são ferramentas valiosas para gerenciar o estresse, a ansiedade e as oscilações de humor, ajudando a encontrar um centro de calma em meio às turbulências.

Quem tem menopausa precoce pode engravidar?

O desejo de ser mãe, ou mesmo a possibilidade de decidir sobre a maternidade, pode ser abalado quando uma mulher descobre a menopausa precoce. A realidade é que essa condição significa, por definição, que os ovários deixaram de funcionar, ou seja, a produção de óvulos foi interrompida. Isso implica em infertilidade natural. 

No entanto, o corpo humano é complexo, e há relatos raros de ovulação esporádica que pode ocorrer mesmo após o diagnóstico, especialmente nas fases iniciais. As chances são muito pequenas, estimadas em torno de 5% a 10% no total, mas existem. Por ser tão imprevisível e rara, não é uma via confiável para quem deseja engravidar.

Para quem sonha com a maternidade e se depara com a menopausa precoce, o caminho mais efetivo e com maiores taxas de sucesso passa pelas técnicas de reprodução assistida.

FIV com ovodoação: o que esperar do processo

Quando a capacidade de produzir óvulos próprios está comprometida devido à menopausa precoce, a Fertilização In Vitro (FIV) com ovodoação (doação de óvulos) é a principal e mais efetiva alternativa. Basicamente, o processo funciona assim:

  1. Escolha da Doadora: Óvulos de uma doadora (geralmente mais jovem e anônima, garantindo as características físicas compatíveis, se desejar) são utilizados.
  2. Fertilização em Laboratório: Esses óvulos são fertilizados em laboratório com o sêmen do parceiro (ou de um doador de sêmen, conforme a escolha do casal).
  3. Transferência para o Útero: Os embriões resultantes são então transferidos para o seu útero. Mesmo que seus ovários não funcionem, seu útero geralmente está apto a gestar, bastando uma preparação hormonal para receber o embrião.

As taxas de sucesso da FIV com ovodoação são bastante animadoras, girando em torno de 50% por tentativa, podendo ser maiores dependendo da clínica e das características envolvidas. 

Este procedimento permite que você vivencie a gravidez e o parto, o que para muitas mulheres é um aspecto fundamental da experiência da maternidade. 

É essencial buscar um especialista em reprodução humana para avaliar seu caso e discutir todas as opções.

Quando procurar ginecologista e quando procurar psiquiatra? 

Depois de tudo o que conversamos sobre a menopausa precoce – suas causas, sintomas físicos e emocionais, e os riscos de longo prazo – pode ser que você esteja pensando no que fazer agora. Entender qual profissional procurar e quando é o primeiro passo.

Ambos os profissionais, ginecologista (ou endocrinologista) e psiquiatra (ou psicólogo), são peças-chave no seu cuidado integral. O ginecologista, ou o endocrinologista, será o seu ponto de referência para a avaliação e tratamento do eixo hormonal, o diagnóstico da menopausa precoce e a indicação de tratamentos como a Terapia de Reposição Hormonal (TRH), além de cuidar da sua saúde óssea e cardiovascular.

Porém, se você se identificar com os seguintes sinais de alerta mental, é um indicativo forte de que o acompanhamento psiquiátrico ou psicológico se faz necessário e urgente:

  • Tristeza persistente: Uma tristeza profunda e prolongada que não melhora, mesmo com o apoio de amigos e família.
  • Ideias de autoagressão: Pensamentos sobre machucar a si mesma, ou sobre não querer mais viver. Estes são sinais muito sérios e exigem ajuda imediata.
  • Ataques de pânico: Crises repentinas de medo intenso, acompanhadas de sintomas físicos como taquicardia, falta de ar, tontura, que parecem incontroláveis.
  • Insônia refratária: Dificuldade severa e persistente para dormir ou manter o sono, que não melhora com as medidas habituais e que afeta drasticamente seu dia a dia.
  • Prejuízo funcional: Se os sintomas emocionais estão impactando sua capacidade de trabalhar, cuidar dos filhos, manter relacionamentos ou realizar atividades que antes eram prazerosas.

Lembre-se: sua saúde mental é tão importante quanto sua saúde física.

Se eu me reconheci aqui, qual é o primeiro passo?

Se você já tem um ginecologista de confiança, comece por ele. Se não, um clínico geral pode ser o ponto de partida para um encaminhamento adequado.

Se os sinais de alerta mental que listei acima estiverem presentes e forem intensos, não hesite em buscar um psiquiatra ou psicólogo. Muitos casos exigem um cuidado conjunto, e os profissionais saberão como orquestrar esse acompanhamento. 

A menopausa precoce é uma condição que impacta significativamente a saúde e a qualidade de vida. No entanto, com o diagnóstico correto e um plano de tratamento adequado, é possível mitigar sintomas, prevenir complicações futuras e garantir um bem-estar duradouro. 

Para isso, a intervenção precoce e o acompanhamento contínuo são fundamentais.

Eu atendo presencialmente, como psiquiatra em Curitiba, e também realizo consultas online. Se sentir que precisa de ajuda para cuidar da sua saúde mental no processo da menopausa precoce, estou aqui. Agende uma consulta e vamos conversar

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Dra. Priscila Ruwer

Dra. Priscila Ruwer

Sou médica psiquiatra em Curitiba, formada pela Universidade Federal de Goiás, com residência médica em Psiquiatria e especialização em Atenção Básica pela UFSC. Penso na psiquiatria não só como um conjunto de técnicas da medicina, mas como uma prática centrada na escuta ativa e cuidado individualizado. Atendo em consultório no centro de Curitiba e também realizo consultas online, acompanhando casos de ansiedade, depressão, TDAH, transtornos de humor e outras condições que precisam de atenção especializada. Meu objetivo é construir, junto com você, caminhos para recuperar sua qualidade de vida.

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