Tudo sobre depressão: o que é e quais os sintomas principais

Na minha vivência no consultório, sem sombra de dúvidas, as conversas sobre depressão, o que é e quais os sintomas tornaram-se as mais frequentes. Esse questionamento aparece com diferentes rostos e histórias, mas sempre carregado de angústia, confusão e, muitas vezes, medo do que se está sentindo, mas não se sabe nomear. Você imaginaria que, …

Depressão, o que é e quais os sintomas, girassol símbolo da campanha de conscientização

Sumário

Na minha vivência no consultório, sem sombra de dúvidas, as conversas sobre depressão, o que é e quais os sintomas tornaram-se as mais frequentes. Esse questionamento aparece com diferentes rostos e histórias, mas sempre carregado de angústia, confusão e, muitas vezes, medo do que se está sentindo, mas não se sabe nomear.

Você imaginaria que, segundo a Organização Mundial da Saúde, mais de 300 milhões de pessoas no mundo vivem com algum tipo de transtorno depressivo? E que no Brasil, esse número já ultrapassa os 11 milhões?

Sempre que vejo os dados, minha preocupação com nossa saúde mental aumenta. E a sensação de urgência se intensifica com as projeções: 

“Um estudo epidemiológico recente do Ministério da Saúde revela que nos próximos anos até 15,5% da população brasileira pode sofrer depressão ao menos uma vez ao longo da vida.”

Ainda assim, falar sobre depressão continua sendo um desafio. Muita gente ainda confunde a doença com “falta de vontade”. Outros acham que é só uma fase ruim, ou que todo mundo se sente dessa forma em algum momento. É normal. Aprendemos enquanto sociedade a ignorar esses sentimentos. 

Entre o estigma e a desinformação, muita dor passa despercebida, ou pior, desacreditada.

Foi esse contraste que me fez querer trazer este texto. Porque, com o tempo, percebi que a gente só recorre aos números quando tenta entender o que está por trás deles, e assim encontrar caminhos para transformar essa realidade. E também que o não entendimento sobre algo faz com que o medo seja alimentado. 

Por isso, nas próximas linhas, quero compartilhar o que a prática clínica e a escuta de tantos pacientes me ensinaram sobre o que é a depressão, como ela se manifesta e por que buscar ajuda pode, sim, mudar vidas.

O que é depressão e como ela se apresenta?

A depressão é um transtorno mental sério, que pode afetar profundamente a forma como uma pessoa sente, pensa e vive seus dias. Ela não é preguiça, falta de fé ou “fraqueza de espírito”. Também não se confunde com uma tristeza comum, daquelas que vêm após uma decepção ou um luto e, com o tempo, vão embora. É bem mais complicada do que isso.

A tristeza que todos nós conhecemos, e que em certo nível é até saudável, tem começo, meio e fim. Costuma estar ligada a algo que aconteceu, e, mesmo sendo dolorosa, permite pausas de leveza, momentos de alívio.

A depressão, por outro lado, pode surgir sem um motivo aparente e costuma se arrastar por semanas ou até meses, com um peso constante e silencioso. Ela geralmente traz esses sinais consigo:

  • A tristeza da depressão não passa, mesmo quando tudo ao redor parece estar “bem”;
  • A energia para fazer tarefas simples desaparece;
  • As coisas que antes traziam prazer deixam de fazer sentido;
  • O pensamento fica mais lento, pesado, confuso — como se o mundo tivesse perdido a cor.

Sim, esses são os sintomas mais comuns, mas é muito importante lembrar que a depressão não tem uma única forma de se manifestar. Existem diferentes tipos de quadros depressivos, e cada pessoa pode vivê-los de um jeito particular, como esses aqui:

Quais são os tipos de depressão que existem?

Os eventos dos últimos anos também ajudaram a escancarar o quanto a saúde mental precisa ser levada a sério. Segundo a Organização Mundial da Saúde, os casos de depressão e ansiedade aumentaram em 25% após a pandemia de COVID-19.

O isolamento, as perdas, o medo constante e a sobrecarga deixaram marcas profundas que ainda não cicatrizaram, mesmo tendo passado alguns anos. Foram tempos sombrios para todos nós, não é?

E o mais preocupante é que, mesmo com esse crescimento, muita gente ainda sofre calada. Seja por não entender o que está sentindo, por medo de ser julgada ou por acreditar que “vai passar”.

Quando a depressão ganha forma: o cachorro preto

Existe um vídeo que eu gosto muito e que acredito exemplificar muito bem o que é depressão. Ele foi publicado pela ONU e, com uma sensibilidade rara, traduz o que muitos vivem, mas não conseguem explicar em palavras.

Você pode assistir aqui. São apenas 4 minutos, e cada segundo vale a pena: 

Nele, a depressão é representada por um cachorro preto. Uma presença incômoda, que aparece sem aviso, muda o jeito de ver o mundo, drena a energia, distorce o tempo. Um peso constante, mesmo quando ninguém mais percebe.

Essa metáfora não é uma novidade. Ela começou a circular no século XVII, associada a presságios e sombras, mas ficou mais conhecida quando Winston Churchill passou a usar a expressão para descrever suas próprias crises depressivas (pois é, mesmo figuras poderosas da história enfrentaram problemas com seu lado emocional em algum momento).

Desde então, o cachorro preto virou símbolo universal de algo que muita gente sente, mas pouco se fala: a depressão como um “bicho” que assusta, paralisa e rouba o brilho da vida.

O que eu acho mais interessante nesse vídeo é que, ao longo da narrativa, o narrador não “vence” o cachorro preto. Ao invés, ele aprende a conviver com ele. Aprende a reconhecê-lo, a impor limites, a buscar ajuda, a entender que não precisa mais esconder o que sente.

E talvez essa seja uma das mensagens mais importantes quando falamos de saúde mental: não se trata de apagar completamente o sofrimento, mas de entendê-lo, e dar a ele um lugar de apoio, escuta e tratamento adequado

A depressão pode, sim, fazer parte da vida. Mas ela não precisa tomar conta de tudo.

Quais são as causas e fatores de risco da depressão?

Ela não tem uma causa única. Não surge por um motivo simples. E isso, muitas vezes, confunde quem está sofrendo. “Mas minha vida está em ordem… por que estou me sentindo assim?” é uma pergunta bastante comum, e quem a faz geralmente leva consigo culpa e incompreensão.

Falando agora em termos médicos, a depressão costuma ser o resultado de uma combinação de fatores, que se somam ao longo do tempo. Alguns são mais visíveis; outros atuam de forma silenciosa, até que o corpo e a mente começam a dar sinais de esgotamento.

Vamos falar um pouco sobre eles?

Fatores biológicos

Genética e predisposição familiar

A genética tem um peso importante. Cerca de 40% da suscetibilidade à depressão está ligada à hereditariedade. Ter casos de depressão na família — especialmente de depressão maior ou transtorno bipolar — aumenta significativamente o risco, mas isso não significa que o diagnóstico seja inevitável. É uma vulnerabilidade, não uma sentença.

Alterações neuroquímicas

O cérebro de uma pessoa em depressão não funciona da mesma forma que o de alguém fora de crise. Isso não significa uma falha, mas sim um desequilíbrio na regulação de neurotransmissores, como:

  • Serotonina, associada ao humor e bem-estar;
  • Noradrenalina, ligada à energia e atenção;
  • Dopamina, relacionada à motivação e prazer.

Quando esses sistemas se desregulam, todo o corpo sente. Sono, apetite, libido, memória, disposição — tudo pode mudar. 

Outros fatores físicos investigados

  • Inflamações sistêmicas;
  • Disfunções hormonais;
  • Condições clínicas crônicas que sobrecarregam o organismo (como doenças autoimunes, dor crônica, alterações da tireoide).

Fatores psicológicos

Histórias que deixam marcas

Ninguém cresce no vazio. Tudo o que vivemos — o afeto que recebemos, as ausências, os modelos emocionais que observamos — molda a forma como lidamos com o mundo e com nós mesmos. Por isso, entre os fatores psicológicos mais associados à depressão, estão:

  • Experiências de negligência emocional ou abuso na infância;
  • Histórico de perda precoce, abandono ou instabilidade afetiva;
  • Ambientes marcados por críticas constantes, exigência de perfeição ou falta de acolhimento emocional.

Padrões de pensamento

Alguns traços de personalidade e funcionamento interno também podem aumentar a vulnerabilidade, como:

  • Tendência ao autocriticismo severo;
  • Perfeccionismo paralisante;
  • Dificuldade em reconhecer os próprios limites;
  • Sensação de inadequação ou fracasso, mesmo diante de conquistas.

Muitas vezes, esses padrões são construídos ao longo dos anos, silenciosamente. E fazem com que a pessoa carregue culpas que não são dela, sufoque o que sente e acredite que “não tem motivo” para estar mal.

Já se sentiu assim em algum momento?

Quando o contexto também adoece: os impactos sociais e estruturais da depressão

Nem sempre o que adoece está só dentro da mente. Muitas vezes, a dor começa do lado de fora — nas relações, na rotina, nas pressões silenciosas que se acumulam até o corpo e a emoção entrarem em colapso.

A depressão pode atingir qualquer pessoa, em qualquer fase da vida. Mas seus efeitos não se distribuem de forma igual. Isso porque os fatores que aumentam a vulnerabilidade ao sofrimento psíquico não estão apenas na biologia ou na história individual: eles também estão nas condições em que vivemos.

As mulheres, por exemplo, são as mais afetadas

A prevalência da depressão entre elas chega a ser quase o dobro da observada nos homens (20% ao longo da vida, contra 12%). Isso não acontece por acaso. Acúmulo de funções, sobrecarga emocional, desigualdade no mercado de trabalho, maternidade solitária e violência doméstica… tudo isso pesa. E pesa todos os dias.

O impacto da depressão também aparece com força no cotidiano profissional

Só em 2024, o Brasil registrou mais de 472 mil afastamentos do trabalho por transtornos mentais — o maior número dos últimos 10 anos. Desse total, 64% eram mulheres, com idade média de 41 anos. Em muitos desses casos, a licença chega a durar até três meses.

Globalmente, a depressão já é a principal causa de incapacidade no mundo, responsável por 4,4% da carga total de doenças e por quase 12% do tempo vivido com algum grau de limitação.

Ainda assim, o sofrimento segue sendo muitas vezes desacreditado

Em pleno 2025, ainda há quem diga que depressão é “frescura” ou “falta de Deus”. E, surpreendentemente, esse julgamento é ainda mais frequente entre os jovens. Uma pesquisa mostrou que 63% das pessoas entre 24 e 35 anos têm receio de contar que têm depressão, com medo de julgamentos e rejeições.

E quando alguém finalmente decide buscar ajuda, nem sempre encontra um caminho acessível

No Sistema Único de Saúde (SUS), o Brasil conta com apenas 19 psicólogos para cada 100 mil habitantes — número que cai ainda mais em estados das regiões Norte e Nordeste, como Pará, Ceará, Amazonas e Maranhão. E, para piorar, o país ainda não tem um protocolo unificado de atendimento para depressão, o que dificulta o diagnóstico e atrasa o início do tratamento.

Tudo isso importa, porque esses contextos, sociais, emocionais e biológicos, não determinam sozinhos que alguém vai desenvolver depressão. Mas aumentam, sim, a vulnerabilidade.

Às vezes, é um evento marcante que desencadeia o quadro. Outras vezes, é o acúmulo invisível de pressões, perdas e pequenas violências que foram sendo engolidas por muito tempo.

E o mais importante:

Não precisa existir um “grande motivo” para que o sofrimento seja legítimo. A depressão não exige justificativa. Ela pode aparecer quando o corpo e a mente já suportaram mais do que conseguiam, mesmo que, por fora, tudo pareça sob controle.

Quais são os principais sintomas da depressão?

Nem sempre a depressão se apresenta de forma clara. Muitas vezes, ela começa aos poucos, em pequenas desistências, numa irritação que antes não existia, na vontade de se isolar sem entender bem o porquê. E por isso, identificar os sinais pode ser tão difícil.

Esses sinais, inclusive, não são apenas emocionais. Eles afetam o corpo, o pensamento e o comportamento. Às vezes aparecem de maneira silenciosa, outras vezes vêm com força e tomam conta da rotina.

Vamos conferir os principais, e como eles se manifestam no dia a dia:

Sintomas emocionais

  • Tristeza constante, que persiste mesmo sem um motivo aparente.
  • Sensação de vazio ou desesperança, como se nada fizesse sentido.
  • Choro frequente ou crises emocionais difíceis de controlar.
  • Irritabilidade aumentada, especialmente em situações que antes eram neutras.

Esses sintomas, por vezes, são camuflados. Muitos pacientes descrevem uma espécie de anestesia afetiva, como se estivessem assistindo à própria vida de longe, sem conseguir reagir.

Sintomas cognitivos

  • Dificuldade de concentração ou de manter o foco em tarefas simples.
  • Pensamentos negativos recorrentes, como “não sou suficiente” ou “nada vai mudar”.
  • Autocrítica exagerada e sensação de fracasso.
  • Ideias de morte ou pensamentos suicidas — que não devem, em hipótese alguma, ser ignorados.

Um detalhe importante: a depressão pode distorcer a percepção de si mesmo e do mundo. Não é raro que a pessoa em crise ache que está “exagerando” ou que “não tem motivo para estar assim”, o que só aumenta a culpa e o silêncio.

Sintomas físicos

  • Alterações no sono, como insônia, despertares frequentes ou sono excessivo.
  • Mudanças no apetite, tanto para mais quanto para menos.
  • Fadiga constante, mesmo após descansar.
  • Dores no corpo sem explicação médica clara (como dor de cabeça, nas costas, no estômago).

O corpo sente o que a mente tenta conter.

Sintomas comportamentais

  • Isolamento social, cancelamento de compromissos ou recusa a interações.
  • Falta de interesse por atividades antes prazerosas (inclusive sexo, hobbies e vida social).
  • Dificuldade para manter a rotina, atrasos, faltas, desorganização.
  • Abandono de cuidados pessoais, como higiene, alimentação ou aparência.

Às vezes, quem está de fora enxerga apenas preguiça ou desânimo. Mas por trás desses comportamentos, há um esforço enorme para continuar funcionando, mesmo quando tudo dentro pede pausa.

Esses sintomas nem sempre aparecem todos juntos, nem com a mesma intensidade. Cada pessoa vive a depressão de um jeito, e o sofrimento nunca deve ser medido pelo que ele aparenta por fora.

Idade e gênero também são fatores importantes para entender os sintomas da depressão

Idade, gênero e contexto de vida também influenciam diretamente na apresentação dos sintomas e isso pode dificultar (ou atrasar) tanto o reconhecimento do quadro quanto o acesso ao cuidado.

Em crianças e adolescentes

Os sinais nem sempre são ditos em palavras. Muitas vezes, a depressão aparece no comportamento: irritabilidade, isolamento, agressividade, queda no desempenho escolar, mudanças bruscas de humor.

É comum que esses sinais sejam confundidos com rebeldia, preguiça ou “falta de limites”, e, com isso, a dor emocional acaba silenciada.

Há também uma diferença de gênero importante: meninos tendem a externalizar os sintomas; meninas costumam relatar mais conflitos internos, baixa autoestima e sofrimento emocional mais evidente.

Na vida adulta

Aqui, os sinais costumam aparecer como um cansaço que não passa, uma perda de interesse pelo que antes fazia sentido. Alterações no sono, no apetite e na rotina são frequentes.

É quando o trabalho começa a ser evitado, os relacionamentos se tornam distantes e a pessoa entra no chamado “modo automático” — presente fisicamente, mas emocionalmente ausente.

Na terceira idade

O quadro fica ainda mais difícil de identificar. A depressão pode ser confundida com doenças físicas, efeitos colaterais de medicações ou com o próprio processo de envelhecimento.

Queixas como dor persistente, esquecimentos, apatia ou retraimento social nem sempre são reconhecidas como sinais de sofrimento psíquico.

E há outro ponto delicado: muitos idosos evitam falar sobre o que sentem. Às vezes por vergonha. Outras vezes por medo de preocupar a família. Ou, ainda, por acreditarem que “não vale mais a pena tentar melhorar”.

Depressão, o que e quais os sintomas nas diferentes fases da vida

Como a depressão afeta a vida cotidiana?

Mesmo quando os sintomas não são intensos, a depressão pode desorganizar o dia a dia de forma silenciosa. Algumas pessoas seguem cumprindo tarefas, comparecendo ao trabalho, mantendo compromissos, mas sentem que estão fazendo tudo no automático, como se tivessem se desconectado de si.

É comum que surjam situações como:

  • Esquecer compromissos simples ou perder prazos recorrentes;
  • Deixar de lado cuidados pessoais, como alimentação e higiene;
  • Sentir que qualquer pequena tarefa exige um esforço desproporcional.

Esse impacto cotidiano nem sempre é reconhecido como sinal de depressão, especialmente quando a pessoa continua “funcionando” por fora. Mas essas pequenas rupturas na rotina são importantes de observar, e merecem cuidado antes que se tornem ainda mais difíceis de reverter.

Como saber se estou com depressão?

Nem toda dor tem nome logo de início. Às vezes, o que chega ao consultório é apenas um cansaço que não passa, um desânimo sem motivo claro, ou a sensação de estar vivendo no automático.

Muitos pacientes chegam dizendo que não sabem se o que sentem “é grave o suficiente”. Tentaram seguir a vida, foram empurrando os sintomas com justificativas plausíveis — estresse, rotina, falta de tempo. Mas, em algum momento, perceberam que não era só uma fase difícil. Era algo que estava se repetindo, se aprofundando, ganhando corpo.

Identificar a depressão é, antes de tudo, escutar os sinais que o corpo e a mente tentam emitir há algum tempo. E para isso, é preciso observar três pontos principais.

Quanto tempo os sintomas da depressão duram?

Como já discutimos, a tristeza comum costuma ser passageira. Pode durar dias, às vezes semanas, mas vem acompanhada de momentos de alívio, pequenas pausas de leveza, retomadas naturais. Já a depressão tem outro ritmo.

Quando os sintomas permanecem por pelo menos duas semanas, de forma contínua ou quase diária, é sinal de alerta.

Mas nem sempre quem está vivendo isso percebe com clareza. É comum ouvir frases como:

  • “Achei que fosse só cansaço.”
  • “Esperei melhorar com o tempo.”
  • “Já passei por fases ruins antes, achei que era mais uma.”

O problema é que esse tempo pode se arrastar, e quanto mais longa a duração, maior o impacto. Por isso, observar a persistência dos sinais, mesmo quando não há um gatilho aparente, é um passo importante para reconhecer a possibilidade de um transtorno depressivo.

O quanto os sintomas da depressão estão afetando a rotina?

Outro ponto central é entender se os sintomas estão interferindo nas atividades do dia a dia. Não se trata de uma dificuldade pontual, como adiar uma tarefa ou perder o foco numa conversa. Mas de uma sensação constante de que tudo exige esforço demais.

Alguns exemplos que costumo observar:

  • A pessoa vai ao trabalho, mas não consegue se concentrar.
  • Está presente nas reuniões, mas desconectada de si mesma.
  • Sabe que precisa tomar banho, comer, responder mensagens, mas empurra tudo até o limite.
  • Até mesmo atividades que antes eram fonte de prazer deixam de fazer sentido.

É como se a vida tivesse perdido o contorno. Tudo continua acontecendo por fora, mas por dentro há uma espécie de apagamento, e isso impacta o rendimento profissional, os vínculos afetivos, os cuidados básicos e o senso de identidade.

Com que intensidade os sintomas da depressão aparecem?

Nem toda depressão é barulhenta. E nem toda dor se mostra de forma visível. A intensidade dos sintomas é um dos aspectos que mais confundem quem está em sofrimento, justamente porque a depressão não se manifesta apenas com tristeza profunda ou crises emocionais explícitas.

Às vezes, os sinais estão lá, mas de forma sutil e persistente. Outras vezes, vêm com força, tirando o fôlego de quem tenta continuar o dia como se nada estivesse acontecendo. Em ambos os casos, há algo que se rompe no modo como a pessoa enxerga a si mesma, os outros e o mundo.

Algumas manifestações comuns incluem:

  • Sensação constante de vazio, mesmo quando cercado de afeto ou estímulos positivos;
  • Pensamentos que colocam em dúvida o próprio valor, ou que questionam se vale a pena continuar;
  • Irritabilidade fora do padrão habitual, que se mistura com culpa e exaustão;
  • Crises emocionais inesperadas, que surgem sem motivo claro e que nem sempre podem ser explicadas em palavras.

É importante lembrar que a intensidade da depressão não pode ser medida por quem está de fora. Muitos pacientes mantêm a rotina, seguem produzindo, socializando, mas fazem isso no limite das forças, como se estivessem carregando um peso invisível. A luta acontece por dentro.

Por isso, não é preciso esperar o sofrimento “piorar” para procurar ajuda. A intensidade não está só no que aparece, está também no que se tenta esconder todos os dias.

Como sei que chegou a hora de buscar ajuda profissional para tratar a depressão?

Saber o momento certo de procurar um profissional de saúde mental nem sempre é simples. Muita gente espera o “fundo do poço”, um colapso, uma crise inquestionável, como se o sofrimento precisasse atingir o extremo para ser levado a sério.

Mas o que poucos sabem é que o pedido de ajuda quase nunca começa com um diagnóstico. Ele começa com um incômodo. Com a percepção de que algo mudou e que, por mais que se tente, já não dá para lidar sozinho.

Muitas pessoas também chegam ao consultório dizendo que ainda “não têm certeza” se estão com depressão ou ficam tímidos, achando que estão desperdiçando o tempo do médico com algo que não é tão grave assim. 

Saiba que essas preocupações não devem existir. O papel do psiquiatra não é rotular, mas investigar, acolher o que está difícil de nomear e oferecer caminhos de melhoria.

Como abordar o tema “depressão” com o médico ou psiquiatra?

Falar sobre saúde mental ainda causa desconforto em muita gente. Por esse motivo, tento sempre trazer segurança e alento nas consultas. Mas compreendo que, muitas vezes, expor o emocional é ainda mais difícil do que expor uma dor física.

É comum que os sintomas sejam minimizados durante a conversa pelo próprio paciente, não por falta de coragem, mas por costume: quem está há muito tempo tentando se manter funcional, muitas vezes se acostuma a esconder o que sente.

Por isso, se estiver com dificuldade de nomear o que está acontecendo, tudo bem começar pela dúvida:

  • “Tenho sentido um cansaço que não passa.”
  • “As coisas perderam a graça e eu não sei por quê.”
  • “Estou funcionando, mas não estou bem.”

O que esperar de uma primeira consulta com o psiquiatra?

A primeira consulta não precisa ser uma prova de que algo está “errado”, você não está lá para me convencer do seu sofrimento. Eu acredito — e sei — que ele é real. Ela é uma oportunidade de olhar com mais profundidade para o que está acontecendo na sua vida, com alguém que saiba acolher e organizar essa experiência.

Durante a avaliação, eu vou:

  • Fazer perguntas sobre os sintomas atuais, o histórico de saúde e o contexto de vida;
  • Investigar quando e como os sintomas começaram;
  • Avaliar possíveis causas clínicas associadas;
  • Entender quais áreas da vida estão sendo mais impactadas.

Não há respostas certas. Não há julgamento. Cada pessoa tem seu tempo, sua forma de falar.

Quais são as opções de tratamento para a depressão?

O tratamento da depressão não é único, muito menos padronizado. Ele é construído a partir da história, das necessidades e da resposta de cada pessoa.

Para o tratamento, costumamos trabalhar três frentes:

  • Psicoterapia: contribui para a elaboração do sofrimento, o fortalecimento emocional e a reorganização interna;
  • Medicação antidepressiva, quando indicada: ajuda a reequilibrar o funcionamento cerebral e reduzir os sintomas mais incapacitantes;
  • Ajustes na rotina, apoio familiar e mudanças no estilo de vida: que auxiliam na sustentação do tratamento.

Na prática clínica, o que mais faz diferença é o acompanhamento próximo e respeitoso, com espaço para dúvida, escuta e revisão constante.

A medicação, quando usada, é sempre discutida com clareza, sem imposição ou fórmulas prontas. Não é porque você está indo a um psiquiatra que irá começar a tomar antidepressivos. Nós primeiro vamos conversar, irei conhecer seu caso, e só então definiremos o caminho a seguir.

Depressão, o que é e quais os sintomas, quando é hora de buscar ajuda

Você não precisa ter todas as respostas para começar a cuidar de si

Tudo o que compartilhei aqui é um compilado do que venho escutando ao longo dos meus anos como psiquiatra.

Não foram apenas dados ou definições, mas fragmentos de histórias que se repetem com outras palavras, em outros corpos, e que muitas vezes chegam até mim com a mesma pergunta: “Doutora, será que tenho depressão?”.

A verdade é que raramente essa resposta aparece de forma direta. Na maioria das vezes, o que vem antes é o silêncio, o cansaço, o estranhamento consigo mesmo. Uma desconexão sutil, mas crescente. E, ao mesmo tempo, o medo de exagerar, de ser mal compreendido, ou de receber um rótulo que não dê conta da complexidade do que se vive por dentro.

Foi pensando nisso — e em cada pessoa que já atendi com esse sentimento confuso de estar mal, mas não saber o quanto — que esse texto ganhou vida. Para ajudar a organizar as ideias, nomear o que muitas vezes é sentido, mas não dito, e oferecer um ponto de partida para quem está cansado de fingir que está tudo bem.

A depressão não precisa ser evidente para merecer cuidado. Nem intensa o tempo todo. Ela pode se manifestar em pequenos afastamentos da própria vida, no esforço excessivo para continuar funcionando, na perda gradual de sentido nas coisas que antes importavam.

Se, em algum momento da leitura, você se viu aqui — mesmo que em fragmentos —, isso já importa.

Porque reconhecer o que está difícil é um passo essencial, e buscar ajuda não significa fraqueza. Significa disponibilidade para entender melhor o que está acontecendo, com quem sabe escutar sem pressa, sem julgamento, e com o compromisso de construir um caminho possível.

Se quiser conversar melhor sobre, saiba que estou aqui para te ouvir com seriedade, respeito e responsabilidade clínica.

Agende sua consulta e vamos juntos descobrir como melhorar sua qualidade de vida.

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Dra. Priscila Ruwer

Dra. Priscila Ruwer

Médica psiquiatra formada pela Universidade Federal de Goiás. Atende tanto presencialmente no centro de Curitiba quanto online, Dra. Priscila é dedicada a oferecer um tratamento completo e individualizado para cada paciente, indo além do uso de medicação. Sua prática é fundamentada no respeito e na escuta ativa, com uma verdadeira preocupação em entender profundamente as necessidades de cada pessoa. Ela acredita que a confiança e a assertividade são essenciais para o sucesso no tratamento, criando um ambiente acolhedor onde você pode se sentir compreendido e cuidado.

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