Ansiedade e tratamento medicamentoso: entenda as opções

Quando as dificuldades com o lado mental passam a ser constantes e difíceis de controlar, comprometendo o sono, o rendimento no trabalho ou as relações pessoais, muitas pessoas começam a buscar informações sobre ansiedade e tratamento medicamentoso. Em que momento o uso de remédios é indicado? Como eles funcionam? Quais cuidados são necessários? Ainda existe, …

Tratamento medicamentoso para ansiedade

Quando as dificuldades com o lado mental passam a ser constantes e difíceis de controlar, comprometendo o sono, o rendimento no trabalho ou as relações pessoais, muitas pessoas começam a buscar informações sobre ansiedade e tratamento medicamentoso. Em que momento o uso de remédios é indicado? Como eles funcionam? Quais cuidados são necessários?

Ainda existe, em muitos casos, um certo receio de recorrer a medicamentos, seja por preconceitos antigos, seja pelo medo dos efeitos colaterais ou pela crença de que você “deveria conseguir resolver sozinho”. É perfeitamente compreensível, e justamente por isso, é fundamental ter acesso a informações confiáveis e atualizadas que possam orientar suas decisões.

Preparei este guia com esse objetivo: explicar como funciona o tratamento medicamentoso para ansiedade, quais são as principais opções disponíveis, como elas atuam no organismo, que efeitos colaterais podem ocorrer e como é conduzido o acompanhamento médico.

Vamos lá?

Pessoa feliz após tratamento para ansiedade com medicamentos

Sumário

Por que considerar o tratamento medicamentoso para ansiedade?

Antes de tudo, é importante compreender que o uso de medicamentos não é um sinal de fraqueza. Pelo contrário: em muitos casos, é uma ferramenta essencial para restaurar o equilíbrio emocional e reduzir sintomas que comprometem significativamente a qualidade de vida. Você não deve se sentir menor por precisar recorrer a essa alternativa.

Assim como não hesitamos em usar medicamentos para tratar diabetes ou hipertensão, os transtornos de ansiedade também podem necessitar de intervenção farmacológica. A diferença está apenas no órgão afetado — no caso da ansiedade, o cérebro e seu delicado sistema de neurotransmissores.

Quando o tratamento medicamentoso é indicado?

Costumamos recomendar o tratamento medicamentoso para ansiedade quando os sintomas ultrapassam a capacidade natural de enfrentamento e começam a interferir de forma consistente na sua vida. Especificamente, consideramos essa abordagem quando percebemos:

Sintomas frequentes e incapacitantes

Quando a ansiedade deixa de ser uma resposta ocasional ao estresse e se torna uma presença constante na vida:

  • A ansiedade ocorre na maior parte dos dias da semana — não são apenas “dias ruins” esporádicos, mas um padrão persistente que se mantém por semanas ou meses.
  • Os episódios são intensos e difíceis de controlar — você sente que “perdeu as rédeas” da própria mente, com pensamentos acelerados, preocupações excessivas ou sensações físicas desconfortáveis.
  • Há interferência significativa nas atividades rotineiras — tarefas que antes eram simples, como sair de casa, participar de reuniões ou até mesmo tomar decisões cotidianas, tornam-se desafiadoras.

Sofrimento emocional persistente

O sofrimento vai além do desconforto temporário e se instala como uma companhia indesejada:

  • O desconforto emocional se mantém mesmo com tentativas de tratamento não-medicamentoso — você já tentou diversas estratégias por conta própria, mas o alívio é temporário ou insuficiente
  • Técnicas de relaxamento, exercícios ou mudanças no estilo de vida não trouxeram alívio suficiente — mesmo com esforços para melhorar, os sintomas persistem ou retornam rapidamente
  • O sofrimento é desproporcional aos fatores desencadeantes — a intensidade da ansiedade não condiz com a gravidade real das situações que a provocam

Comprometimento funcional no dia a dia

A ansiedade começa a “roubar” a capacidade de viver plenamente:

  • Dificuldade em realizar tarefas profissionais ou acadêmicas — queda no rendimento, procrastinação excessiva, dificuldade de concentração ou fuga de responsabilidades importantes
  • Evitação de situações sociais importantes — recusar convites, evitar eventos familiares, sentir-se incapaz de manter conversas ou relacionamentos
  • Prejuízos nos relacionamentos familiares e afetivos — irritabilidade constante, conflitos frequentes, dificuldade em estar presente emocionalmente para pessoas queridas
  • Redução significativa na capacidade de autocuidado — negligenciar a alimentação, higiene pessoal, consultas médicas ou outras necessidades básicas

Sintomas físicos importantes

O corpo “fala” através de manifestações que impactam significativamente a qualidade de vida:

  • Insônia crônica que não melhora com higiene do sono — dificuldade para adormecer, despertares frequentes ou sono não reparador, mesmo seguindo todas as recomendações para uma boa noite de sono
  • Tensão muscular persistente — dores no pescoço, ombros, mandíbula ou outras áreas, que não respondem a massagens ou relaxamento
  • Taquicardia, sudorese ou tremores frequentes — sintomas físicos que surgem mesmo em situações que não deveriam ser estressantes
  • Crises de pânico recorrentes — episódios intensos de medo com sintomas físicos marcantes, que geram medo do próprio medo
  • Sintomas gastrointestinais relacionados à ansiedade — dores abdominais, náuseas, alterações no apetite ou no funcionamento intestinal sem causa médica identificada

Risco de agravamento do quadro

Quando há sinais de que a situação pode piorar sem intervenção adequada:

  • Tendência ao isolamento social progressivo — redução gradual do círculo social, evitação crescente de atividades antes prazerosas
  • Uso de álcool ou outras substâncias para “acalmar” — tentativas de automedicação que podem levar a problemas adicionais
  • Desenvolvimento de pensamentos autodepreciativos — autocrítica excessiva, sentimentos de inadequação ou pensamentos sobre não conseguir “dar conta” da vida
  • Surgimento de sintomas depressivos associados — tristeza persistente, perda de interesse em atividades, sensação de desesperança ou fadiga constante

O papel dos medicamentos no tratamento

É importante entender que os medicamentos para ansiedade não são uma “muleta” ou uma solução definitiva por si só. Eles funcionam como uma ferramenta que pode:

  • Reduzir a intensidade dos sintomas, criando uma “janela de oportunidade” para que outras estratégias terapêuticas sejam mais efetivas.
  • Restaurar o equilíbrio neuroquímico, permitindo que o cérebro funcione de forma mais regulada.
  • Quebrar ciclos viciosos de ansiedade que se perpetuam e se intensificam com o tempo.
  • Proporcionar alívio suficiente para que você possa retomar atividades importantes e investir no seu processo de recuperação.

Nessas situações, o tratamento com medicamentos pode ser o diferencial entre permanecer em sofrimento ou recuperar a capacidade de viver com mais leveza e funcionalidade.

Ele abre espaço para que outras abordagens — como a psicoterapia, mudanças no estilo de vida e técnicas de controle da ansiedade — sejam incorporadas com maior sucesso.

Cada pessoa tem sua trajetória única, e o que funciona para uma pode não funcionar para outra. Por isso, procurar uma avaliação médica é sempre o melhor caminho para tomar decisões informadas sobre seu tratamento.

Quais são as principais classes de medicamentos para a ansiedade?

Ao pensar em tratamento medicamentoso para ansiedade, é natural que você pense imediatamente em algumas questões: qual remédio será indicado? É seguro? Vou precisar tomar por muito tempo? Será que vou me tornar dependente? E se não funcionar comigo?

Se essas perguntas estão passando pela sua cabeça, quero ajudar a acalmar seu coração. Primeiro de tudo, estar se questionando é um sinal de que você está sendo cuidadoso e responsável com sua saúde mental, e isso é algo que devemos celebrar, não temer.

Não existe uma receita de bolo quando falamos de medicamentos para ansiedade. Cada pessoa é única, com sua própria história, seu próprio corpo e suas próprias necessidades. O que funciona maravilhosamente para alguém que você conhece pode não ser a melhor opção para você.

É por isso que a escolha do medicamento sempre considera não apenas seus sintomas atuais, mas também seu histórico médico, outros remédios que você possa estar tomando, seu estilo de vida e até mesmo suas preferências pessoais. Você é parte ativa dessa decisão, não apenas um receptor passivo de prescrições.

Vamos conhecer as principais opções disponíveis — não para que você se automedique (jamais faça isso!), mas para que chegue ao consultório mais informado e confiante:

Ansiolíticos (benzodiazepínicos)

Os ansiolíticos da classe dos benzodiazepínicos são como um “botão de pausa” para o sistema nervoso. Eles agem rapidamente, promovendo uma sensação de calma e relaxamento que pode ser muito bem-vinda em momentos de crise intensa.

Quando são mais utilizados:

  • Crises agudas de ansiedade ou pânico
  • Situações específicas que geram muito estresse (como procedimentos médicos)
  • Como “ponte” no início de outros tratamentos, enquanto aguardamos seu efeito
  • Insônia severa relacionada à ansiedade
O que você precisa saber:

Embora sejam muito eficazes para alívio imediato, os benzodiazepínicos não são indicados para uso contínuo a longo prazo. Com o tempo, o corpo pode desenvolver tolerância (precisando de doses maiores para o mesmo efeito) e, em alguns casos, dependência física.

Isso não significa que são “remédios ruins” — pelo contrário, quando utilizados corretamente, podem ser verdadeiros salvadores em momentos de crise. A questão é usá-los de forma estratégica e sempre com acompanhamento próximo.

Pense neles como um guarda-chuva: essencial quando está chovendo forte, mas você não precisa carregá-lo aberto o tempo todo.

Antidepressivos (ISRS e IRSN)

Aqui temos uma das maiores confusões da psiquiatria moderna. Muitas pessoas ficam surpresas quando o psiquiatra prescreve um “antidepressivo” para ansiedade. “Mas doutora, eu não estou deprimida, estou ansiosa!”

A explicação é simples: esses medicamentos receberam esse nome porque foram inicialmente estudados para depressão, mas descobrimos que são igualmente eficazes — ou até mais — para transtornos de ansiedade. É como se tivéssemos descoberto que um remédio para dor de cabeça também funciona para a dor nas costas.

Os inibidores seletivos de recaptação de serotonina (ISRS) e os inibidores de recaptação de serotonina e noradrenalina (IRSN) trabalham regulando neurotransmissores que influenciam diretamente nosso equilíbrio emocional. Eles ajudam o cérebro a processar melhor as informações e a responder de forma mais equilibrada aos estímulos do dia a dia.

Por que são considerados “primeira linha” no tratamento:

  • Não causam dependência, mesmo em tratamentos que duram anos
  • São eficazes para ansiedade persistente, não apenas para crises pontuais
  • Melhoram tanto sintomas psicológicos quanto físicos — aquelas dores de cabeça, tensão muscular e insônia também podem melhorar
  • Permitem que você se beneficie mais da psicoterapia, criando uma base emocional mais estável para o trabalho terapêutico
  • Têm décadas de pesquisa comprovando sua segurança e eficácia

Tempo médio até o efeito clínico

Essa é uma informação crucial que pode evitar muita frustração: esses medicamentos não funcionam como um analgésico. Você não vai tomar hoje e se sentir melhor amanhã.

O efeito terapêutico completo geralmente aparece entre 2 a 6 semanas após o início do tratamento. Algumas pessoas começam a notar pequenas melhorias na primeira ou segunda semana, mas o benefício pleno demora um pouco mais.

Por que essa demora? Porque esses medicamentos não apenas “tampam” os sintomas — eles ajudam o cérebro a se reorganizar e encontrar um novo equilíbrio. É um processo mais profundo e duradouro, mas que requer paciência.

Durante esse período inicial, é fundamental manter contato próximo comigo para ajustar doses se necessário e monitorar como você está se sentindo. Lembre-se: desistir na segunda semana seria como plantar uma semente e desistir dela porque não virou árvore em uma semana.

Estabilizadores de humor e antipsicóticos atípicos

Quando falamos dessas classes de medicamentos, é comum que as pessoas se assustem. “Antipsicótico? Mas eu não tenho psicose!” ou “Estabilizador de humor? Eu não sou bipolar!”

Calma. Assim como os antidepressivos são usados para ansiedade, esses medicamentos também têm aplicações muito além do que seus nomes sugerem. Na psiquiatria moderna, utilizamos as propriedades específicas de cada medicamento, independentemente do nome que receberam historicamente.

Quando podem ser considerados:

  • Quadros de ansiedade muito intensa que não respondem aos tratamentos convencionais
  • Quando há instabilidade emocional associada (mudanças bruscas de humor)
  • Em casos onde a ansiedade vem acompanhada de sintomas obsessivos ou compulsivos severos
  • Como complemento a outros medicamentos em situações específicas

Pontos importantes a considerar:

  • Geralmente são usados em doses muito menores do que quando indicados para suas condições “principais”
  • Requerem acompanhamento mais frequente, especialmente no início do tratamento
  • Podem ter efeitos colaterais diferentes dos outros medicamentos, que precisam ser bem explicados e monitorados
  • Não são “mais fortes” ou “piores” que outros medicamentos — são apenas diferentes, com perfis específicos para situações específicas

Beta-bloqueadores

Estes são os “medicamentos emprestados” da cardiologia que encontraram um lugar especial no tratamento da ansiedade. Originalmente desenvolvidos para problemas cardíacos e pressão alta, descobrimos que podem ser muito úteis em situações específicas de ansiedade.

Quando são usados:

  • Ansiedade de desempenho (falar em público, entrevistas de emprego, apresentações)
  • Sintomas físicos predominantes (coração acelerado, tremores, sudorese)
  • Situações pontuais onde você sabe que ficará ansiosa e quer prevenir os sintomas físicos
  • Como complemento a outros tratamentos em casos específicos

O interessante dos beta-bloqueadores é que eles agem principalmente nos sintomas físicos da ansiedade. Eles não vão fazer você se sentir “dopado” ou alterar seu estado de consciência, você continuará mentalmente alerta, mas seu coração não disparará e suas mãos não tremerão.

É como se eles “desligassem” a parte física da ansiedade, permitindo que você enfrente situações desafiadoras com mais tranquilidade corporal. Para muitas pessoas, isso é suficiente para quebrar o ciclo vicioso da ansiedade antecipatória.

Uma reflexão importante

Conhecer essas opções não significa que você precisa de todas elas, ou mesmo de alguma delas. Cada pessoa tem sua trajetória única, e o que importa é encontrar o que funciona melhor para você, no seu momento atual, considerando suas circunstâncias específicas.

O objetivo não é eliminar completamente qualquer sensação de ansiedade — afinal, um pouco de ansiedade é normal e até útil. O objetivo é recuperar sua capacidade de viver com leveza, tomar decisões com clareza e se relacionar com o mundo de forma mais equilibrada.

Remédios utilizados no tratamento medicamentoso da ansiedade

Como o corpo reage aos medicamentos?

Vou ser muito direta com você: os medicamentos para ansiedade não vão transformá-lo em outra pessoa. Eles não vão apagar sua personalidade, sua criatividade ou suas características únicas. Na verdade, muitas pessoas relatam que, após o tratamento, se sentem “mais elas mesmas” do que se sentiam há muito tempo.

Pense assim: quando você está com uma infecção e toma antibióticos, você não se torna uma pessoa diferente, você volta a ser quem sempre foi, só que sem a infecção. Com a ansiedade é similar: o medicamento não muda sua essência, ele ajuda a remover o “ruído” que estava impedindo você de ser plenamente você.

O que realmente acontece no seu cérebro?

Em situações de ansiedade crônica, é como se o sistema de alarme do seu cérebro estivesse com defeito, disparando alertas constantes mesmo quando não há perigo real.

Imagine que seu cérebro é como a central de segurança de um prédio. Em condições normais, ela monitora tudo com atenção, mas só dispara o alarme quando realmente precisa.

Na ansiedade, é como se essa central estivesse com os sensores hipersensíveis, disparando alarmes para qualquer movimento — até mesmo para uma folha balançando no vento.

Os medicamentos não “desligam” esse sistema de segurança — isso seria perigoso e contraproducente. Em vez disso, eles ajudam a recalibrar os sensores, para que voltem a funcionar de forma adequada, alertando apenas quando necessário.

Assim, você continua sendo capaz de sentir todas as emoções, incluindo ansiedade quando ela for apropriada (como antes de uma apresentação importante). A diferença é que não vai mais sentir como se estivesse em perigo constante por coisas do dia a dia.

Pontos essenciais para você lembrar:

  • Você não vai “ficar dopado” — os medicamentos modernos são desenvolvidos para restaurar o equilíbrio, não para sedar.
  • Sua personalidade permanece intacta — você continuará sendo engraçado, criativo, sensível ou qualquer outra característica que define quem você é.
  • Você não perde a capacidade de sentir emoções — apenas volta a senti-las de forma proporcional às situações.
  • O processo é gradual — não é como um interruptor que liga e desliga.

Uma reflexão importante

Muitas vezes, quando estamos ansiosas há muito tempo, esquecemos como é se sentir “normal”. É possível que você nem se lembre de como era viver sem aquela tensão constante nos ombros, sem aquele frio na barriga ou sem aquela sensação de que algo ruim está sempre prestes a acontecer.

O objetivo do tratamento não é fazer você se sentir “artificial” ou “diferente” — é ajudá-lo a redescobrir como é viver com leveza, tomar decisões sem paralisia, dormir tranquilo e acordar sem aquela sensação de afogamento que muitas pessoas ansiosas conhecem bem.

Quando o tratamento funciona, a sensação mais comum que ouço das pacientes é: “Nossa, eu tinha esquecido como era me sentir assim. É como se eu tivesse voltado a ser eu mesma.”

E essa é exatamente a ideia: não se tornar outra pessoa, mas voltar a ser plenamente você.

Mindfulness

Quais são os efeitos colaterais e riscos do tratamento medicamentoso para ansiedade?

Ter esse cuidado e saber o que pode acontecer com seu corpo ao iniciar um tratamento medicamentoso para ansiedade é importante, e, mais uma vez, a melhor maneira de lidar com essas dúvidas é com informação.

Todo medicamento pode, sim, causar efeitos colaterais. Isso não significa que você terá todos eles, nem que serão graves. Muitas pessoas experimentam reações leves e transitórias, especialmente nas primeiras semanas de uso, até que o corpo se adapte.

O meu papel é justamente monitorar como você está se sentindo, ajustar doses quando necessário e garantir que o tratamento seja o mais seguro e confortável possível. Você não estará sozinho nesse processo.

Os efeitos colaterais mais comuns variam conforme o tipo de medicamento utilizado. Ansiolíticos (benzodiazepínicos) podem causar sonolência, fadiga, tontura e dificuldade de concentração, além do risco de dependência quando usados por longos períodos.

Antidepressivos (ISRS e IRSN) podem provocar náusea, dor de cabeça, alterações gastrointestinais, insônia ou sonolência, e uma leve piora inicial da ansiedade, efeitos que costumam diminuir com o tempo.

Estabilizadores de humor e antipsicóticos atípicos exigem monitoramento mais próximo, pois podem gerar ganho de peso, sonolência e alterações metabólicas.

Já os beta-bloqueadores, geralmente bem tolerados, podem causar cansaço, tontura e mãos frias, especialmente em atividades físicas mais intensas.

Lembre-se que cada organismo é único. Muitas pessoas não apresentam efeitos relevantes ou conseguem lidar bem com eles.

Mais importante: você sempre terá espaço para relatar como está se sentindo, e o tratamento poderá ser ajustado conforme necessário.

Quando me procurar (sinais de alerta)

Alguns sinais merecem atenção especial. Se você perceber qualquer um dos sintomas abaixo, deve entrar em contato imediatamente:

  • 🧠 Piora significativa da ansiedade ou surgimento de pensamentos autodepreciativos;
  • 🧠 Ideação suicida;
  • 🧠 Efeitos físicos muito intensos ou que não desaparecem após as primeiras semanas;
  • 🧠 Qualquer reação que cause desconforto intenso ou pareça fora do esperado.

Qual a duração do tratamento medicamentoso para ansiedade e como funciona o desmame?

Essa é uma das preocupações mais comuns que ouço no consultório, e é completamente compreensível. Ninguém quer se sentir “dependente” de um medicamento para viver bem.

Não existe uma fórmula mágica ou um cronômetro que determine exatamente quanto tempo você precisará de medicação. Seria muito mais fácil se eu pudesse dizer “6 meses e pronto”, mas a realidade é mais complexa, e, ao mesmo tempo, mais esperançosa do que você imagina.

Fatores que influenciam a duração do tratamento

A duração do tratamento medicamentoso para ansiedade é como uma receita personalizada, que leva em conta diversos ingredientes únicos da sua vida:

Seu histórico pessoal:

  • Há quanto tempo você convive com ansiedade?
  • Esta é a primeira vez que busca tratamento ou já tentou outras abordagens?
  • Existem fatores estressantes específicos na sua vida atual?

Como seu corpo responde:

  • Você melhora rapidamente ou precisa de mais tempo para estabilizar?
  • Há efeitos colaterais que precisam ser manejados?
  • Outros medicamentos ou condições de saúde influenciam o tratamento?

Seu contexto de vida:

  • Você tem suporte familiar e social adequado?
  • Está fazendo psicoterapia paralelamente?
  • Sua rotina permite o autocuidado necessário?

Seus objetivos pessoais:

  • O que significa “estar bem” para você?
  • Quais são suas prioridades neste momento da vida?

Protocolos gerais (mas sempre individualizados)

Para tratamentos de manutenção com antidepressivos:

Em geral, recomendamos manter o tratamento por pelo menos 6 a 12 meses após a melhora completa dos sintomas. Isso permite que o cérebro “consolide” as mudanças positivas e reduza o risco de recaída.

Para algumas pessoas, especialmente aquelas com histórico de episódios recorrentes, o tratamento pode ser mantido por anos, e isso não é problema algum. Se você tem diabetes, toma medicação continuamente sem questionar. Com a ansiedade, às vezes, é similar.

Para ansiolíticos (benzodiazepínicos):

Estes são geralmente prescritos para períodos mais curtos — algumas semanas a alguns meses — justamente para evitar tolerância e dependência. Quando usados por mais tempo, é sempre com indicação específica e acompanhamento rigoroso.

O processo de desmame: passo a passo

Quando chega o momento de considerar a redução da medicação — e esse momento vai chegar, acredite —, o processo é cuidadosamente planejado:

Avaliação conjunta do momento ideal

  • Você está se sentindo estável há pelo menos alguns meses?
  • Sua vida está em um período relativamente calmo?
  • Você tem ferramentas (como terapia) para lidar com possíveis desafios?

Redução progressiva e personalizada

  • As doses são diminuídas gradualmente, nunca de forma abrupta
  • O ritmo é ajustado conforme sua resposta individual
  • Cada etapa é mantida por tempo suficiente para adaptação

Monitoramento próximo e constante

  • Consultas mais frequentes durante o processo
  • Atenção a qualquer sinal de retorno dos sintomas
  • Ajustes imediatos se necessário

Flexibilidade total no processo

  • Se você precisar ir mais devagar, vamos mais devagar
  • Se surgir algum estressor, podemos pausar a redução
  • Não há “prazo final” ou pressão para terminar rapidamente

Suporte contínuo após a suspensão

  • Acompanhamento mesmo depois de parar completamente
  • Plano de ação caso os sintomas retornem
  • Tranquilidade de saber que pode retomar se necessário

Cuidados especiais ao interromper

Nunca, jamais, pare por conta própria. Isso não é apenas uma recomendação médica, é uma questão de segurança real. Parar abruptamente pode causar:

  • Síndrome de descontinuação: sintomas físicos desconfortáveis como tontura, “choques” elétricos, náusea
  • Efeito rebote: retorno dos sintomas de ansiedade de forma ainda mais intensa
  • Novos sintomas: que podem ser confundidos com recaída, mas são apenas temporários

Desmistificando medos comuns

“Vou ficar dependente para sempre” A dependência física de antidepressivos é diferente da dependência de substâncias como álcool ou drogas. Quando você para gradualmente, com acompanhamento, seu corpo se adapta sem maiores problemas.

“Se eu precisar voltar a tomar, significa que falhei” Absolutamente não. Às vezes, retomar a medicação é a decisão mais sábia e corajosa que você pode tomar. Não é falha — é autocuidado.

“Pessoas normais não precisam de remédio” “Normal” é uma palavra que não gosto muito. Pessoas saudáveis fazem o que é necessário para manter sua saúde — seja tomar medicação para pressão, usar óculos ou tratar ansiedade.

A escada para a melhora

Um caminho que pode trazer alívio e clareza

Chegamos ao final deste guia sobre ansiedade e tratamento medicamentoso, e espero que você se sinta mais esclarecido e, principalmente, menos sozinho nessa jornada.

Ao longo deste texto, exploramos quando o tratamento pode ser indicado, conhecemos as principais classes de medicamentos, entendemos como eles atuam no cérebro e desmistificamos questões sobre duração e desmame.

Mas, acima de tudo, a mensagem fundamental é: você não está quebrado e não precisa se “consertar”. O tratamento medicamentoso não é sobre transformá-lo em uma pessoa diferente, mas ajudá-lo a redescobrir quem você sempre foi, devolvendo sua capacidade de viver com leveza e bem-estar.

Lembre-se de que os medicamentos são apenas uma das ferramentas disponíveis no cuidado da ansiedade. Quando combinados com psicoterapia, mudanças no estilo de vida e uma rede de apoio, os resultados podem ser ainda mais significativos.

Não existe uma fórmula única para todos, mas existe uma combinação que pode funcionar especificamente para você. O mais importante não é qual caminho você escolher, mas sim que você escolha — que você decida não mais aceitar que a ansiedade roube seus dias, suas noites e seus sonhos.

Se você se identificou com as situações descritas neste guia, se reconheceu seus sintomas ou suas dúvidas, talvez seja o momento de considerar uma avaliação profissional. 

Você merece viver bem

Merece acordar sem aquele aperto no peito, tomar decisões sem paralisia e se relacionar sem medo constante. Sua jornada de cura é única, e você não precisa carregar esse peso sozinho.

Se está pronto para dar esse passo corajoso em direção ao seu bem-estar, agende sua consulta comigo e vamos conversar sobre como podemos construir juntos o caminho para uma vida mais leve e equilibrada.

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Dra. Priscila Ruwer

Dra. Priscila Ruwer

Médica psiquiatra formada pela Universidade Federal de Goiás. Atende tanto presencialmente no centro de Curitiba quanto online, Dra. Priscila é dedicada a oferecer um tratamento completo e individualizado para cada paciente, indo além do uso de medicação. Sua prática é fundamentada no respeito e na escuta ativa, com uma verdadeira preocupação em entender profundamente as necessidades de cada pessoa. Ela acredita que a confiança e a assertividade são essenciais para o sucesso no tratamento, criando um ambiente acolhedor onde você pode se sentir compreendido e cuidado.